Foto de Bartolomeu Rodrigues




 
 
 
 
Viveremos como respiramos

-O que é que nos une? 
Perguntei-te
     =O disfarce do tempo. 
     Disseste
-E os beijos, as nossas bocas
o que dizem? 
     =Os beijos são os intervalos
     do desamor. 
-E as palavras 
porque nos ferem? 
     =Porque as conhecemos todas 
     e as queremos fora de nós. 
-E o que foi feito dos primeiros dias,
do diálogo das mãos? 
     =Esses dias nunca existiram
     como os lembramos
     e as mãos já têm manchas. 
-Como resistiremos? 
     =Resistiremos para sempre
     apenas com a nossa pele
     porque já estamos mortos
     para o amor. 
-E como viveremos
se já estamos mortos?
Perguntei-te
     =Viveremos 
     por detrás das palavras
     por detrás dos beijos
     por detrás da pele
     em ciclos ___ como respiramos
     inspirando ___ expirando
     e na nossa destruição 
     encontraremos a sensualidade. 
     Disseste.


 

18 comentários:

  1. Escrito de uma beleza suave, embora comovente.
    Ficção e verdade juntas num final extremamente viciante.
    Nunca tinha pensado que encontramos a sensualidade na nossa destruição.

    Ao ver a fotografia lindíssima soube logo quem era o autor.

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    1. É compensador que alguém aprecie o que produzimos e que se deixe tocar pelas palavras.

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  2. Sinais matemáticos em poesia
    Uma nova experiência

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  3. Um poema e uma imagem que também me tocaram profundamente... por instantes tive a sensação de estar a receber instruções para sobreviver ao que vem depois da morte...

    Forte abraço, L.

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    1. Achei muito interessante a sua interpretação, olhei o texto com outro olhar. Obrigado.
      Um abraço.

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  4. Encantador e tocante diálogo poético.
    Inspiradíssimo, Luis.
    Beijo.

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  5. Boa tarde
    Mais um poema que é quase um monólogo, entre o princípio e o fim da vida.
    Muito tocante.
    A foto escolhida está em sincronismo.
    Dia Feliz com saúde.
    Um beijo
    :)

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    1. Bem observado, uma outra interpretação também válida.
      Obrigado.
      Um abraço.

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  6. Na vida quando se morre para o amor descamba tudo e a relação torna-se impossível ou não porque há muita gente que continua amiga ou não, mas vivem por "detrás dos três" que referes, fingindo a situação destrutiva e jamais encontram a sensualidade. Jasusss me acuda!
    Já agora para mim, depois da morte física não existirá nada mais.
    Comparo este poema tão enigmático tal e qual o corredor sufocante da foto sem qualquer escapatória mas talvez o enigma e ou resolução esteja atrás da porta ao fundo. Gostei imenso da foto mas acho que sufocaria:))
    Abraços e uma boa tarde

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    1. Mais um comentário com uma nota de humor que aprecio. O seu entendimento da situação que o texto revela é interessante.
      Muito Obrigado.
      Um abraço.

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  7. Gostei do poema e da foto apesar de não me julgar capaz de entrar em tal túnel por medo de sufocar.
    Abraço e saúde

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    1. Ninguém gosta de entrar num espaço destes.
      Saúde, um abraço.

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  8. Estou fascinada pela foto do Bartolomeu.
    O mais jovem fotógrafo da família, deve ter andado a passear pelas Galerias subterrâneas de Lisboa.
    Essa árvore desenhada ali no lado esquerdo fica lindíssima se ampliarmos a foto.

    Creio que, apesar do bem elaborado jogo de palavras, que compõem hoje o poema, a fotografia e a sua qualidade estética, reuniram mais admiradores.
    Eu sou uma.
    "Crime - disse ela" :)

    Boa noite.
    Um abraço.

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    1. Também gosto da foto. Junto-me ao grupo de admiradores da imagem.

      Obrigado.,um abraço.

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