E sempre as flores
Conjuntos irracionais de flores
as marcas dos pés na terra húmida
as rezas grosseiras
muitas vezes incorrectas nas palavras
que nunca foram bem decoradas
e que agora é tarde para aprender
uma luz intensa que só pode ser campestre
nas cidades a luz é baça
e sempre os conjuntos irracionais de flores
como homenagem a desconhecidos
de quem não se sabe a valia
e o que tudo isso tem de hipocrisia
a pressa que todos temos de regressar a casa
e depois o sono atormentado
e o receio que temos de que se descubra
a causa da tormenta ___ a vida toda desarrumada
depois dos exames que chegaram
com os carimbos dos especialistas
e sempre os conjuntos irracionais de flores
como um sinal que já não se pode ignorar
os cotovelos no parapeito da janela da frente
o queixo nas mãos e os olhos a caírem ao longe
no sítio onde já não está ninguém
à minha espera ___ só as flores
ao som de Beethoven.
Flores e beethoven
ResponderEliminarConjunto improvavel
Nem tanto.
EliminarFiquei de tal maneira presa ao som de Beethoven || Glenn Gould que perdoei ao conjunto de flores (pessoas) irracionais.
ResponderEliminarA música ofuscou o texto.
EliminarO sono ofuscou o texto.
EliminarBoa noite 😴 Até à manhã.
Até amanhã. Obrigado.
EliminarMe gusta Beethoven y el poema también. Enamorada de las letras
ResponderEliminarGracias por tu visita y por tu comentario.
EliminarAs flores querem-se assim, irracionais. As pessoas não. Nem as células do nosso corpo deveriam, de repente, desarmonizar-se...
ResponderEliminarForte abraço, L.
Estamos sujeitos à força e ao desígnio da natureza.
EliminarObrigado, um abraço.
Um poema que gostei muito, talvez o melhor que já li neste teu espaço. A irracionalidade do ser humano em depositarem flores em locais de tragédia ou funerais, não me diz nada, mesmo nada e será um voto de pesar e ou condenação? Para mim é a tal hipocrisia que referes.
ResponderEliminarSim pode acontecer uma desarrumação _______ com os carimbos dos especialistas, mas como sou otimista nem isso me deita abaixo porque sim.
A foto é como eu vejo, sinto e quero ver no seu emaranho de cor e em campo aberto, porque quando eu morrer se me levarem flores e velinhas eu cuspo das "quatro tábuas":))) e não me ponham a música que mostras pois prefiro por exemplo a "jerulasema":)))) à só falta esta as minhas cinzas quero que sejam deitadas ao mar ou outro local qualquer com muitaaaaaaaaaaa água:))) já que não posso desejar que fossem na minha terra natal.
Fizeste-me dar a volta entre três países e a "hipocrisia" das pobres flores assim como as funerárias são um negócio altamente rentável.
Isto foi o que senti ao ler-te e muito mais podia dizer como se fosse uma conversa cara a cara e tenho a certeza que a melancolia do Beethoven não entraria.
Obrigado mais uma vez por este momento e desculpa qualquer coisinha!
Beijos e um bom domingo
Um desenvolvido comentário que apreciei. É um prazer para um autor saber que pode despertar num leitor, reflexões e memórias que estavam esquecidas.
EliminarMuito Obrigado, um abraço.
Un gran compositor. siempre he sentido predilección por el piano y ahora esa música sirve de compañía a tu gran poema...no se puede pedir nada más.
ResponderEliminarBesos
La música siempre puede subrayar las palabras. Un abrazo.
EliminarEm cada conjunto de palavras, uma mensagem.
ResponderEliminarSente-se o arrepio na pele, pela inutilidade das nossas palavras - as minhas, melhor dizendo.
As flores não precisam de racionalidade para se misturarem em tufos de cores, qualidades, aromas e feitios.
A Natureza criou-as para embelezar, generosas e belas, o olhar de quem vive racionalmente: o ser humano.
Com todos os defeitos e qualidades que o raciocínio implica.
Como na Natureza das flores e dos humanos, não existe uma única fórmula que os aperfeiçoe, serão eternamente desiguais entre si...
Esta excelente publicação obriga a olharmo-nos atentamente, e a olhar em nosso redor.
Muito bom!
Um abraço.
PS- Baixei o volume do PC e fui teclando o meu pensamento, ao som da batuta de Bernstein.
Obrigada por estes bonitos momentos. :)
Apreciei a profundidade do seu comentário e as suas considerações sobre os vários momentos que ficaram escritos no texto de hoje. Profundo e substancial este seu comentário.
EliminarAgradeço.
Um abraço.
A minha interpretação de „E sempre as flores“ é muitíssimo pessoal e tem a ver com a crise política actual. Portanto, digo simplesmente que o poema é intenso como a luz campestre e me deixa baça como a luz de Düsseldorf. Quando ouço Beethoven na interpretação de Glenn Gould entro no paraíso e esqueço tudo à minha volta.
ResponderEliminarCada texto suscitará a cada leitor uma interpretação pessoal que, no fundo, só pode enriquecer o que foi publicado.
EliminarTambém sou apreciador destes músicos e desta peça de Beethoven.
I fiori con la loro bellezza sempre ci accolgono e ci fan sentire a casa. Sempre bello leggere i tuoi versi, bravo. Buona serata.
ResponderEliminarAccolgo con favore il tuo primo commento, parole gentili sul mio post di oggi. Un abbraccio.
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