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Passeios na relva


Gosto de caminhar sobre a relva

molhada ___ de preferência 

não arrasto os pés 

tento com isso 

contornar o silêncio

Depois sento-me e contemplo

os sapatos molhados

os mais claros que tinha

assim as marcas da água 

são mais visíveis 

Sentado num banco de jardim

a olhar os sapatos molhados

___ quem passa 

confunde-me com um velho

dobrado sobre a tristeza óssea

da sua velhice

Os melros também me rondam

esses pássaros pretos da cidade

alimentam esperanças 

de que eu os alimente

esperam que abra a mão 

e deixe cair miolos de pão a brilhar

E eu continuo aqui sentado

à espera ___ tanto tempo depois

já nem sei bem de quem ou de quê 

por isso passeio na relva molhada

para matar o tempo. 

Sento-me de novo e amparo 

uma lágrima que o vento chamou.




11 comentários:

  1. Um poema muito belo e simultâneamente triste.
    Um poema a que eu daria, ou melhor, dou, o título:
    "Momentos da Vida de um Poeta"

    Um abraço.

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    1. Um título adequado. Obrigado, foi simpática a sua apreciação.
      Um abraço.

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  2. Poesia velata di tristezza ma davvero bella!!! Complimenti. Buon pomeriggio.

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    1. Un bel commento che apprezzo. Buon fine settimana, un abbraccio.

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  3. Gostei imenso e é o que faz tanta gente na solidão. Toma um lenço e enxuga a lágrima e volta de novo a andar na relva sem sapatos e sendo tu muito sensível (acho eu) enquanto te picas esqueces o que deves esquecer, A foto é lindíssima.
    Abraços e uma boa noite

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    1. Aí está uma solução sensata, quando temos dores no corpo esquecemos as da alma. Será?
      Um abraço.

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  4. Um poema desolador.
    O poeta soube lhe dar um sentido, mas, a velhice não precisa forçosamente de ser assim tão triste.
    A lágrima que o vento plantou, deixa que o mesmo a seque.
    E amanhã será outro amanhecer
    :(

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    1. Amanhã, será outro amanhecer, é certo, mas estaremos ainda mais velhos.
      Um abraço.

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