Uma nuvem de fumo ___
___ não mais
Circunscrevo o olhar
circunscrevo os gestos
circunscrevo as palavras
como se o desejo ___ que virá
fosse uma condenação
como se o calor das mãos
pudesse soldar uma fenda
como se não houvesse
um lugar do meu corpo
com direito ao desejo
à vertigem
ao nervosismo da ideia do desejo.
Aconchego-me na cama
e fico a olhar o branco
da parede do quarto obscuro
onde planam as imagens
de mulheres-borboleta
como se fosse um filme
de um tempo que desconheço
suspeito no entanto
que tem tudo a ver comigo
e com os pecados que cometi.
Acendo a luz e tudo termina ali
até a minha vida
porque afinal não sou mais
do que uma nuvem de fumo
circunscrita a um espaço fechado.
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Uma nota de emoção e pesar por Paula Rego
"porque afinal não sou mais
ResponderEliminardo que uma nuvem de fumo"
Primeiro: não acredito
Segundo: a ser verdade que sentido faz o poema?
Todos os poemas fazem sentido mesmo aqueles que aparentemente não fazem sentido... até aparecer alguém a quem as palavras e as ideias fazem sentido.
EliminarBellissima poesia, perfetta la chiusa. Complimenti e buona giornata.
ResponderEliminarUma perda enorme para a Portugalidade
EliminarGrazie mille, buona giornata anche tu. Un abbraccio.
EliminarPaula Rego há muito tinha ganho a imortalidade.
EliminarDivido este poema em duas partes que se entrelaçam e fazem sentido: a primeira: o sentir doloroso da culpa do desejo como se fosse de outro mundo e a segunda: visões de mulheres borboletas que ligas aos pecados onde viras nuvem de fumo.
ResponderEliminarAgora a minha construção: até eu marava se visse homens borboletas na tua tela onde apenas vejo três: uma a andar de skate dando velocidade ao teu sofrimento, outra pobre coitada esborrachou-se no chão de tanto tentar o mesmo e a do canto a quer levantar voo para fugir ao te imaginário.
Já mandei o 112 porque não quero que morras na nuvem de fumo sentimental!
Entendo e sei que um poeta tem estados de alma, bons, menos bom e maus e dou-te um exemplo de um ícone da nossa literatura que me fartei dele enquanto estudante; Fernando Pessoa ao que eu chamava: O inconformável complicado e em muitos dos teus
poemas revejo/sinto alguns traços. No entanto gosto de algumas obras dele mas prefiro outros autores.
Saio daqui a sorrir e vou ali e já venho porque um velhote que não sabe ler pediu-me para lhe ler um artigo de um jornaleco sobre o Luis Filipe Vieira não fosse ele benfiquista ferrenho. Vês esta borboleta encarquilhada vai voar e gargalhar sobre este teu molho de brócolos no meio da nuvem negra:)))))
Beijos e um bom dia e
Junto-me à tua nota de pesar
Bem interpretado este texto. Uma nota de humor, sempre a propósito.
EliminarPelos vistos há por aí um trabalho social a desenvolver nem que seja para ler notícias do Benfica.
Um abraço e um dia feliz.
Obrigado.
As visões e as culpas por vezes andam de mãos dadas.
ResponderEliminarExcelente, um dos teu melhores poemas. Talvez mesmo o melhor.
Continuação de boa semana, caro amigo.
Um abraço.
As culpas, os remorsos são as pedras no caminho.
EliminarEssa classificação à minha publicação de hoje, enche-me de regozijo.
Caro amigo, retribuo o abraço.
Li e reli e não consigo encontrar um adjectivo que defina o sentimento do autor ao escrever o poema. Tão pouco aquele que sinto ao lê-lo.
ResponderEliminarDe todos os adjectivos que me ocorreram não encontro nenhum que traduza a negação ao sentimento de desejo expresso.
Sendo o nosso idioma tão rico para tudo nomear e definir, sentimentos há que, pelo menos para mim, ficam impossíveis de expressar por palavras...Talvez este seja dos textos poéticos com maior profundidade que já aqui li, ou, quiçá, o que mais me sensibilizou.
Se gostei? Muito!
Um abraço.
É uma felicidade para um autor quando o leitor nos diz que foi tocado pela mensagem que pretendemos passar mas que, sempre ficamos na dúvida se ela sensibilizará alguém. Registo o seu agrado, Janita, hoje foi dia sim para o autor, mercê comentários tão favoráveis como o seu e o do Jaime.
EliminarUm abraço.
Obrigada, Luís.
EliminarÉ também muito gratificante para quem comenta, seriamente e com sinceridade, receber uma resposa tão sincera quanto a que o autor nos deu.
Não sou capaz de comentar este poema Luís. Nem de por em palavras o que senti. Desculpe.
ResponderEliminarAbraço e saúde
O que disse também é um comentário, importante é ter sentido algo.
ResponderEliminarUm abraço.
Um dia deram-me a conhecer Paula Rego.
ResponderEliminarNão apreciei.
O grotesco feriu a minha sensibilidade.
Mas uma pagela, abriu uma página...
Mais tarde, a Casa das Histórias, ajudou-me a compreender a natureza humana e a manifestação de uma Arte.
O seu poema... dividido em 4 partes:
I - tudo se repete... um pouco mais do que já lhe é conhecido (...) um desejo que não (se) consegue reprimir, e que é condenável.
II - um vídeo de luz que lhe trouxe à memória o que já viveu e já não vive, talvez por ter pecado...
III - hoje, resta-lhe apenas sinais de fumo, para comunicar estados de alma.
IV- ao acender a luz, tem a noção da escuridão...
Gostei Muito!
Tocou-me Profundamente!
Como se o tivesse escrito especificamente para mim... em "stricto sensu".
"Se amo alguns livros são aqueles em que sinto que o seu autor, que pode ter morrido séculos antes de eu ter sido engendrado, se dirigia a mim, a mim pessoal e concretamente, a mim em confidência."
Miguel de Unamuno
Até a pintura, com um apontamento de cor de laranja, o que não é habitual!Gratidão e Admiração!
A profundidade deste seu comentário deixou-me sem palavras, tudo o que eu possa dizer é supérfluo.
EliminarEm forma de homenagem.
ResponderEliminarUma bela partilha.
Que descanse em paz.
:(
A Artista merece a homenagem.
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