que desamparo se instala em mim, quando o sinto débil tão intensa é essa dor, à qual não sou indiferente sei da raiz, sei do fogo, desse imperfeito engano serei uma vez mais mar ao longo de tantos anos e esta água que o sustenta!
"Levanta-te, não chores. Tens de saber que às vezes é difícil matar o que nos mata, ir aguçando o gume do cutelo e movê-lo depois, logo em relâmpago, até que o monstro seja degolado e não fique sequer uma gota de sangue, da cicuta voraz que lhe corria pelas veias tão geladas, sob a pele que terias beijado quase a medo em busca de um sabor que fosse o fogo e o ar e a água, mas era só veneno adocicado, daquele que vicia sem parecer viciar e nos deixa sem cura a vida inteira.
Levanta-te, bem sabes, desde o tempo dos contos infantis, que todo o mal procura disfarçar-se em rostos como aquele, na perfeição volátil desse abismo a que chamam beleza e vai ardendo em lânguidos sorrisos e olhares feitos de pura seda, seduzindo espíritos como o teu, demasiado inocentes ou perversos para desconfiar da eternidade ou para resistir à luz fosforescente que, obedecendo às leis da natureza, sempre soube atrair até à morte o alucinado voo das borboletas.
Levanta-te, vá lá, não tenhas medo de apertar o gatilho as vezes necessárias para que tudo morra - os estertores da tua alma ou do teu corpo mesmo assim doem menos, acredita, que o travo torvo dos piores remorsos. E se vires que é preciso rasgar dentro de ti, antes de serem escritos, os mil e um poemas que haverias de ler, talvez sem esforço, à flor daquela face, não hesites, porque a felicidade tem um preço e os versos, quaisquer versos, são apenas a memória infiel deste vento que move as árvores lá fora enquanto é noite, mas que às primeiras horas da manhã deixará elevar-se um nevoeiro tão espesso e esbranquiçado, que o amor será nesse momento uma palavra baça que nada te dirá, a ti ou a ninguém"
Meu caro Anónimo, agradeço-lhe a oferta deste poema, tão extraordinário, um bom início de madrugada ao lê-lo. Vou guardá-lo para que possa ler e reler as vezes que quiser. Boa Noite, um abraço.
Em muita coisa que decorre na vida teremos de ser só nós a resolver porque não há quem nos ajude. Lutar, acreditar e ter esperança são os meus instrumentos porque acredito que melhores dias virão. Beijos e um bom dia
Quando a tormenta se instala dentro de nós temos que ter a força necessária para lutar com ela, mesmo sem barco, mesmo sem ajuda... Belíssima reflexão. Uma boa semana com muita saúde. Um beijo.
Agradeço a classificação que deu à minha publicação. A plataforma Blogger está com graves problemas desde há muito tempo. Impede a possibilidade de entrar em certos blogs. Um abraço.
Comentário de Piedade Araújo Sol recebido por mail :
boa tarde Caro Poeta/Pintor já há muito que cheguei à conclusão que nas tormentas, ninguém (ou quase ninguém nos deita a mão) e por vezes essa mão não tem custos, é apenas uma tábua de salvaçao gratuita curto mas intenso, o poema, como eu gosto. boa semana. :)
que desamparo se instala em mim, quando o sinto débil
ResponderEliminartão intensa é essa dor, à qual não sou indiferente
sei da raiz, sei do fogo, desse imperfeito engano
serei uma vez mais mar
ao longo de tantos anos
e esta água que o sustenta!
"Levanta-te, não chores.
Tens de saber que às vezes é difícil
matar o que nos mata,
ir aguçando o gume do cutelo
e movê-lo depois, logo em relâmpago,
até que o monstro seja degolado
e não fique sequer uma gota de sangue,
da cicuta voraz que lhe corria
pelas veias tão geladas, sob a pele
que terias beijado quase a medo
em busca de um sabor que fosse o fogo
e o ar e a água,
mas era só veneno adocicado,
daquele que vicia sem parecer viciar
e nos deixa sem cura a vida inteira.
Levanta-te, bem sabes,
desde o tempo dos contos infantis,
que todo o mal procura disfarçar-se
em rostos como aquele,
na perfeição volátil desse abismo
a que chamam beleza e vai ardendo
em lânguidos sorrisos e olhares
feitos de pura seda, seduzindo
espíritos como o teu,
demasiado inocentes ou perversos
para desconfiar da eternidade
ou para resistir à luz fosforescente
que, obedecendo às leis da natureza,
sempre soube atrair até à morte
o alucinado voo das borboletas.
Levanta-te, vá lá, não tenhas medo
de apertar o gatilho as vezes necessárias
para que tudo morra - os estertores
da tua alma ou do teu corpo
mesmo assim doem menos, acredita,
que o travo torvo dos piores remorsos.
E se vires que é preciso
rasgar dentro de ti, antes de serem escritos,
os mil e um poemas
que haverias de ler, talvez sem esforço,
à flor daquela face, não hesites,
porque a felicidade tem um preço
e os versos, quaisquer versos, são apenas
a memória infiel deste vento que move
as árvores lá fora enquanto é noite,
mas que às primeiras horas da manhã
deixará elevar-se um nevoeiro
tão espesso e esbranquiçado, que o amor
será nesse momento uma palavra baça
que nada te dirá, a ti ou a ninguém"
Fernando Pinto do Amaral
Meu caro Anónimo, agradeço-lhe a oferta deste poema, tão extraordinário, um bom início de madrugada ao lê-lo. Vou guardá-lo para que possa ler e reler as vezes que quiser.
EliminarBoa Noite, um abraço.
Durma em Paz!
ResponderEliminarAgradeço e retribuo.
EliminarChego aqui de madrugada e encontro dois poemas … digo apenas que a fotografia é linda de morrer.
ResponderEliminarUm Anónimo brindou-nos com um belo poema.
EliminarEm muita coisa que decorre na vida teremos de ser só nós a resolver porque não há quem nos ajude. Lutar, acreditar e ter esperança são os meus instrumentos porque acredito que melhores dias virão.
ResponderEliminarBeijos e um bom dia
O individualismo, que tão estimulado é no mundo de hoje, deixa-nos cada vez mais sozinhos.
EliminarUm abraço.
Teresa Palmira Hoffbauer
EliminarA solidão é também inspiração com ou sem tormenta.
Certo.
EliminarTambém gostei do poema do Fernando P. Amaral...com muito conteúdo. Parabéns!
ResponderEliminarBeijos
Um enriquecimento para este espaço, hoje.
EliminarQuando a tormenta se instala dentro de nós temos que ter a força necessária para lutar com ela, mesmo sem barco, mesmo sem ajuda...
ResponderEliminarBelíssima reflexão.
Uma boa semana com muita saúde.
Um beijo.
Como diz o ditado popular "Fazer das fraquezas força".
EliminarBoa semana, um abraço.
E porque todos, ou quase todos nós, poetas portugueses, trazemos o mar dentro de nós, essa tempestade é frequentemente inspiradora.
ResponderEliminarGostei, L., tal como gostei do aguerrido poema do F.P.A. que o Anónimo amavelmente lhe trouxe.
Forte abraço!
Concordo que essas tormentas podem ser inspiradoras. Sempre a nossa inclinação para a melancolia.
EliminarUm abraço.
Mensagem de Cidália Ferreira recebida por mail:
ResponderEliminarUm poema intenso, belo!
A Blogger anda com problemas.
Beijo, e uma excelente semana.
Agradeço a classificação que deu à minha publicação.
EliminarA plataforma Blogger está com graves problemas desde há muito tempo. Impede a possibilidade de entrar em certos blogs.
Um abraço.
Comentário de Piedade Araújo Sol recebido por mail :
ResponderEliminarboa tarde Caro Poeta/Pintor
já há muito que cheguei à conclusão que nas tormentas,
ninguém (ou quase ninguém nos deita a mão) e por vezes essa mão
não tem custos, é apenas uma tábua de salvaçao gratuita
curto mas intenso, o poema, como eu gosto.
boa semana.
:)
Concordo com o seu comentário, a experiência diz-nos isso.
EliminarUm abraço.