Parte de mim
Tenho um sexo gasto
de tantas viagens
de enganos e desenganos
de subir e descer montanhas
de rezas e blasfémias
a deuses e deusas
que afinal não existem
Tenho um sexo gasto
de tal modo exausto
que sempre me parece
vagamente triste no seu repouso
ou na sua meditação
se é que os sexos meditam
antes de morrerem de velhos
Tenho um sexo gasto
tão gasto e silencioso
que deixei de ter com ele
uma vida comum
por opção dele
dado que vive insensível e distante
e ignora os apelos
Tenho um sexo irremediavelmente
gasto
tão gasto
tão exausto
tão silencioso
que ao dormir com ele
é como dormir sozinho
já não dialoga comigo
como dantes
altas horas da noite
quando me envolvia
nas suas aventuras que
de tão irreais só podiam
ser sonhos
Agora durmo tão só
ainda mais só do que quando
deixei de ser desejado.
Balanço final inibido de preconceitos da vida sexual do poeta.
ResponderEliminarCorajoso, realista, brilhante.
Gasta, triste, silenciosa a cidade da fotografia.
Será uma cidade nos Estados Unidos?! Um país em cacos!!
A criatividade não pode ter preconceitos.
EliminarA imagem é Nova Iorque.
Olhando melhor para a fotografia, penso que seja nalguma cidade africana.
EliminarUma cidade que nunca foi desejada.
A criatividade atingiu o seu ponto máximo. Um dos seus melhores poemas.
EliminarNão me diga que a fotografia é da cidade que nunca dorme e eu penso visitar no próximo ano.
Ao longe vê-se a Ponte de Manhattan.
EliminarSem qualquer preconceito abordas algo que muita gente não verbaliza e só por isso tiro-te o meu chapéu e digo apenas que não percas esta tua identidade e sobretudo a poética...mais-nada:)))
ResponderEliminarA foto não gostei muito embora digam que NY é linda e que não dorme.
Beijos e um bom dia
Os artistas têm o dever de revelar as partes mais ocultas, mas comuns, do sentir das pessoas, sejam ou não ficcionais.
EliminarUm abraço.
ahahahaahaha. Maravilhoso. Desse problema também me queixo eu, ahaahahahaahah.
ResponderEliminarRi com gosto ao ler tão "sensual" poema. Bonita foto
Deixando cumprimentos
Faça então o seu próprio poema.
EliminarMuito Obrigado por ter vindo.
Magnífico poema, este seu PARTE DE MIM, L.
ResponderEliminarO meu sexo, gasto e regasto, é um dos grandes privilégios que a velhice me trouxe: essa parte de mim está agora completamente livre e mais do que nunca aberta à criatividade.
Só, eu? Nunca me sinto só, apesar de gostar muitíssimo da solidão criativa.
Forte abraço, L.!
Apreciei o seu comentário, esse sim, corajoso porque assumido.
EliminarUm abraço.
Um poema tão belo como real....
ResponderEliminarA maior parte morre antes do dono :)) Gostei de ler :)
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Coisas de uma vida ...
Beijo, e uma excelente semana.
Tudo o que nasce... morre.
EliminarUm abraço.
Comentário de Piedade Araújo Sol recebido por mail :
ResponderEliminarboa tarde
é preciso coragem para escrever este poema...
:(
Não pode haver preconceitos nem apegos à realidade, a criatividade é total.
EliminarUm abraço.
Poetizar com um dos mais frustrantes e tristes problemas da velhice, é um acto de coragem que não é para todos.
ResponderEliminarAbraço e saúde
Avante com a nossa dose de coragem.
EliminarUm abraço.