Foto de Ana Catarina Duarte





O limite de tempo do amor


Tenho o meu olhar alterado 

disformes as formas do que vejo 

tudo claro ___ muito claro no entanto 

mais vibrante 

mais ousadas as cores das palavras 


É o limite de tempo do amor 


Ficam trôpegas as pernas 

do nosso pensamento 

a língua move-se 

no balanço de uma onda 

e eu a dizer que 

as coisas estão sempre bem 

como se ancorado à margem 

fosse o mesmo que viajar 

como se o limite do corpo 

fosse a alegria dos sentidos 

como se engolir palavras 

fosse o mesmo que pensar um poema 


Abriu-se a porta das traseiras 

da nossa casa 

e uma corrente de ar varreu

tudo o que não estava agarrado ao chão 


Foi o limite de tempo do amor.




 

13 comentários:

  1. Quadros de Dalí, numa linda tepeçaria sobre a cama, esqueleto-candeeiro na mesa de cabeceira...uma cama onde eu nunca me atreveria a dormir... onde mais estaríamos senão no Museu Teatro com o mesmo nome do surrealista catalão?...E se não estiver errada, também é lá que se encontra o seu túmulo.

    "Onde então, senão na minha própria cidade, deveria ser preservado o mais extravagante e sólido de minha obra, onde mais? O Teatro Municipal, o que restava dele, pareceu-me muito apropriado e por três motivos: primeiro, porque sou um pintor eminentemente teatral; a segunda, porque o teatro fica bem em frente à igreja onde fui batizado; e a terceira, porque foi justamente na sala do teatro que fiz a minha primeira exposição de pintura."

    Salvador Dalí

    O poema casa lindamente com a imagem, devido à sua componente igualmente surrealista.
    .

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    1. O comentário do Estimado Anónimo sugere-me um momento do filme português "A canção de Lisboa" em que os mestres na presença do examinando (Vasco Santana) que responde às suas difíceis perguntas com grande sapiência, dizem em coro, exaustos "Vê-se que sabe!"
      Obrigado pela completa informação.

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    2. 😂 😂 Ora nem mais...os Doutores sabem porque estudam e se interessam, já que ninguém nasce ensinado...

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  2. Belos, conquanto perturbadores, o poema e a imagem.

    Forte abraço, L.!

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    1. Concordo, sobretudo com a imagem, estranha, como aliás toda a obra de Salvador Dali.
      Um abraço.

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  3. A foto é do quarto horrendo de Salvador Dali e o teu poema ainda bem
    "Abriu-se a porta das traseiras
    da nossa casa
    e uma corrente de ar varreu
    tudo o que não estava agarrado ao chão"
    O limite do amor só acontece quando morre!
    Abraços e um bom dina

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    1. Exactamente, é do tempo de vida do amor que o texto fala.
      Bom Dia, um abraço.

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  4. Felizes os que vivem um amor sem limites.
    Confesso, gosto da pintura do irreverente Dali.
    Beijo, feliz fim-de-semana.

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    1. Concordo com a sua referência aos que são felizes.
      Bom fim de semana.
      Um abraço.

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  5. A nada se agarra o amor. Quando termina, deixa apenas lembranças, tão fortes que o vento não consegue levar. Abraço.

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  6. Quando o amor é frágil qualquer vento o pode varrer.
    Adorei o poema e a imagem!!
    -
    Se escrevesse o que sente a minha alma

    Beijo, bom fim de semana.

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