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Náusea 


Náusea 

com a falta de memória que os novos têm 

dos velhos que os deram à luz 

Náusea 

com a voz de sabonete do líder pedinte 

de mais ferramentas para matar

Náusea 

com os que lhe dão o milho

ao bico amestrado

Náusea 

com o avô verde que informa 

como e quantos matou desta vez 

Náusea 

com os que de batina põem na mão de crianças 

um crucifixo sem boneco 

Náusea 

com os do dinheiro que jogam o jogo

de três copos e uma bola com os velhos pobres 

Náusea 

com os que saltitam de lugar em lugar 

recolhendo moedas e sorrindo com acinte 

Náusea 

com a ignorância que desemboca no desastre 

sobre os desastrados e as suas escolhas 

Náusea 

com os que arriscam o Armagedão 

que queimará os que nem sabem o que isso é 

Náusea 

com os que morrem simplesmente porque são pobres 


Estou com receio de que a náusea 

me faça vomitar o mundo.





25 comentários:

  1. Teresa Palmira Hoffbauer2 de novembro de 2022 às 01:48

    Já Sartre sentiu NÁUSEA e sobreviveu.

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    1. Mas talvez de vez em quando, tenha vomitado o mundo.

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    2. Teresa Palmira Hoffbauer2 de novembro de 2022 às 02:12

      Ou o mundo de vez em quando, o tenha vomitado 🤮
      É tudo uma questão de perspectiva.

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    3. Não me parece que isso tenha acontecido. Vomitou o mundo, ou parte dele, quando recusou o Nobel.

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    4. Teresa Palmira Hoffbauer2 de novembro de 2022 às 10:09

      Coqueteria, simplesmente coqueteria!!

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    5. O Mandarim de Paris causou NÁUSEA 🤮 a muita gente ... às vezes até à Simone de Beauvoir.
      Conclusão: o mundo causa-nos NÁUSEA 🤮 no entanto, não devemos esquecer que também nós causamos NÁUSEAS ao mundo.

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    6. Claro que a anónima sou eu: Teresa Palmira Hoffbauer

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    7. Não sei se foi assim, acredito que entre eles houve algo de superior. É ver o livro de Simone, A Cerimónia do Adeus.

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    8. Como uma “menina bem comportada” li toda a obra da Simone e do Jean-Paul.
      Houve algo de superior na verdade, mas nem tudo foi um mar de rosas 🥀
      Termino a discussão, sem NÁUSEA, e vou almoçar com familiares.

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    9. Qualquer ponto de contacto do texto que hoje publiquei com a obra de Sartre com o mesmo nome, é totalmente casual sendo unicamente o mais evidente, apenas o título.

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    10. Eu compreendi que esta explicação tem a ver com a minha publicação desta noite.
      Claro que „A NÁUSEA“ de Sartre não é a NÁUSEA do poema.
      A associação é simplesmente o título.

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  2. Nós somos parte integrante desse mundo que nos nauseia e que, de quando em quando, vomitamos. A náusea é um direito que conquistámos a pulso, já que para o grande capital a náusea ligeira é um estado natural. Que a NOSSA náusea seja profunda e arrancada das entranhas para que se distinga bem da nauseazinha diletante dos senhores do mundo.

    Forte abraço, L.!

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    1. O seu comentário adiciona significado à publicação de hoje.
      Um abraço.

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  3. Ah! Como me revejo no teu excelente texto poético!..!!
    Seguimos nauseados, contentes na vida como num baile de máscaras. Basta-nos o agrado do traje, que no baile é tudo. Somos servos das luzes e das cores, vamos dançando com a verdade que está por baixo dos trapos, que não é senão a paródia íntima da verdade do que nos supomos...
    Náusea sim! Acabemos com todas as máscaras que ocultam a náusea!
    Expurguemos todas as farsas! Definitivamente!

    Um abraço!

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    1. Mais um comentário que vem enriquecer o texto que publiquei hoje. Estou de acordo.
      Um abraço também para si.

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  4. Não me conheço vivendo algo diferente, sempre assim foi, com mais ou menos requinte servida aos que engolem tudo como se normal fosse.
    Náusea sim, mas não permito deixar-me diluir ou afogar na abundante náusea de todos os dias de forma a sobreviver neste pântano.
    Abraço, continuação de uma boa semana.

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  5. “Tenho vontade de vomitar, e de me vomitar a mim...
    Tenho uma náusea que, se pudesse comer o universo para o despejar na pia, comia-o.”
    Álvaro de Campos

    Cada vez mais é a náusea, infelizmente. Abraço poético

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    1. Não conhecia a citação que teve a amabilidade de reproduzir.
      Saúdo a sua vinda.
      Um abraço.

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  6. Poema instigante! Gostei de ler. Quantos de nós não tem náuseas ao deparar-se com o mundo como está?
    .
    Coisas de uma Vida...
    .
    Beijo. Boa tarde.

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    1. É verdade, há dias em que só vemos coisas que nos desagradam.
      Um abraço.

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  7. Elvira Carvalho deixou um novo comentário na mensagem "":

    Um poema-denuncia muito intenso. Um vómito de revolta, que deveria ser uma pedrada no charco da indiferença daqueles para quem a vida do seu semelhante nada vale, se eles ainda tivessem capacidade de sentir.
    Abraço e saúde

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    1. Cara Elvira, gostei do seu comentário, sinto-me gratificado ao verificar que valorizou a atitude expressa no texto.
      Saúde, um abraço.

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