Na minha casa tudo é possível
Na cave guardo os caixotes
do que nunca usei
ventos devastadores
palavras graves e assassinas
raivas acumuladas
balas atiradas às paredes
No andar térreo é onde vivo
uma sucessão de dias e de noites
com a boca do tamanho necessário
com um búzio encostado ao ouvido
com folhas e folhas num mar de letras
É o lugar onde devoro a vida
e bebo dos rios de comoção
No andar de cima
a que chamo o primeiro
é onde mantenho tudo o que é possível
e que resiste
casas antigas onde vivi
sons perdidos que encontrei de novo
corpos nus que se negaram ao tempo
é onde descanso do hábito
e me acordo com sevícias
No sótão
os sonhos
os medos
os remorsos
as angústias
os perdões
os que me faltam
a janela para o céu ___
___ já ali ___ encostado ao telhado
Este é um lugar que visito e revisito
sem lá ir
o lugar dos recitais que arranham a noite
o lugar por onde passarei
uma única vez ___
___ voando.
Vivemos um dia
ResponderEliminarnessa mesma casa
sem disso
nos darmos conta
Como se tudo voltasse ao princípio.
EliminarQue belíssimo auto retrato em metáforas, L.!
ResponderEliminarA Natália Correia chamar-lhe-ia um "perfil surrealista", mas eu sou muito menos exuberante, fico-me pelo auto retrato...
De qualquer forma, um esplêndido poema que li e reli.
Forte abraço!
A classificação que dá ao meu escrito, vindo de quem é conhecedora do assunto, é motivo de satisfação para mim.
EliminarUm abraço.
vivemos em todos os andares....
ResponderEliminaro do meio é o que ficou na memória do Poeta
o seu lugar de conforto.
:)
A nossa casa é onde nos guardamos.
EliminarUm abraço.
O sótão... é sempre deliciosamente fascinante!
ResponderEliminar:)
O sótão é o lugar do mistério.
EliminarVou passar aqui mais vezes, navegando! Gostei muito.
ResponderEliminarSaúdo a sua vinda. Muito obrigado.
EliminarAté à próxima.
Excelente poema o seu.
ResponderEliminarIdentifico-me com ele...
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Coisas de uma Vida...
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Beijo. Boa tarde de Feriado!
É um gosto para o autor ter tocado a sua sensibilidade.
EliminarUm abraço.