Falam da morte os poetas
Porque falam tanto da morte os poetas
como se houvesse nas suas bocas
uma canção amargurada
uma música de notas negras
um alçapão constante
e ao mesmo tempo inesperado
Os poetas falam tanto da morte
para distribuírem vida com as suas palavras
porque a vida é
um cavalo repentinamente célere
um fósforo a arder que seguramos até ao fim
as unhas e os cabelos a crescerem depressa
enquanto velhos amantes bebem tardiamente
pelo mesmo copo
Os poetas falam tanto da morte
por já terem descoberto
a parte do seu corpo em contacto com
a terra
a água
o ar
e o fogo.
É das incertezas que nascem as dúvidas e das dúvidas a possibilidade de expandir a POESIA para que nela possa caber mais mundo — terra, água, ar, fogo 🔥
ResponderEliminarInteressante comentário, um ponto de vista a tomar em consideração.
EliminarPara mim "os poetas falam tanto da morte" para que quem os ler darem mais valor à vida e desmitificar para o único dado garantido: "ninguém ficará para semente"!
ResponderEliminarO que digo está espelhado nestas tuas palavras: "Os poetas falam tanto da morte, para distribuírem vida com as suas palavras"
Beijocas e um bom domingo
Obrigado pelo comentário que aprova e reforça o espírito da publicação de hoje.
EliminarUm abraço.
Posso contrariar um pouco daquilo que aqui está dito?!
ResponderEliminarAs palavras do poema dão valor à vida. CERTAMENTE.
Todavia, nem todos os poetas querem que os leitores dêem mais valor à vida.
Há poetas que amaldiçoam a VIDA e abençoam a MORTE ☠️
Acredito no que diz mas, só conheço essa particularidade no período chamado Romântico. Talvez haja excepções nos poetas ditos contemporâneos.
EliminarNão podemos dizer que Paul Celan fosse um poeta romântico.
EliminarQuando a minha vida social e cultural acalmar um pouco, vou escrever sobre a MORTE ☠️ na POESIA contemporânea.
Não pretendo polemizar, no entanto ocorre-me dizer que, como escreveu Yvette Centeno sobre Paul Celan "não se terá conformado Celan com a condição da vida que lhe coube" ou seja, a sua maldição da vida é a dele próprio, não a vida de um modo geral.
EliminarPossivelmente a Yvette Centeno [NÃO sei quem é, penso que tenha a ver com a Poesia de Paul Celan].
EliminarO que escreveu ela sobre a morte de Sá-Carneiro ou até da morte misteriosa de Ingeborg Bachmann?!
Não há polémica quando não estamos de acordo, Luís, cada um é livre de expressar as suas convicções.
Eu queria escrever que possivelmente a Yvette Centeno tem razão.
EliminarQue a maldição da vida dele foi ele próprio — concordo absolutamente.
Certo é, que eu nunca quis convencer ninguém daquilo que penso, portanto, mais uma vez: os meus comentários não são polémicos.
👍
EliminarEstava eu a dizer que me sentia desarmada diante deste belo poema quando o comentário se sumiu diante dos meus olhos...
ResponderEliminarSim, anteontem dei continuidade a um conhecidíssimo verso de Camões que fala da morte, mas tenho a certeza de que exaltei a Vida, ainda que ela sempre nos pareça breve.
Por outro lado, já estive quatro vezes em paragem cardiorrespiratória da qual só saí graças a complexas manobras de ressuscitação e embora só de duas me recorde como se tivesse sido ontem, sei bem o que se sente quando se perde a vida, nem que seja por uns breves minutos. No entanto, creio que é sobretudo da vida e da complexidade do pensamento humano que falo nos meus sonetos... Creio, já que nunca me ocorreu contabilizar os poemas que dediquei à morte...
Forte abraço, L.!
Apreciei o seu comentário com a autoridade que lhe dá esse confronto em que a sua vida saiu sempre vencedora. Defendemos e cultivamos a vida ainda que falemos da morte repetidamente.
EliminarUm abraço.