Falam da morte os poetas


Porque falam tanto da morte os poetas 

como se houvesse nas suas bocas 

uma canção amargurada 

uma música de notas negras 

um alçapão constante 

e ao mesmo tempo inesperado 


Os poetas falam tanto da morte 

para distribuírem vida com as suas palavras 

porque a vida é 

um cavalo repentinamente célere

um fósforo a arder que seguramos até ao fim 

as unhas e os cabelos a crescerem depressa

enquanto velhos amantes bebem tardiamente 

pelo mesmo copo

Os poetas falam tanto da morte 

por já terem descoberto

a parte do seu corpo em contacto com 

a terra 

a água 

o ar 

e o fogo.










 

13 comentários:

  1. Teresa Palmira Hoffbauer13 de novembro de 2022 às 01:02

    É das incertezas que nascem as dúvidas e das dúvidas a possibilidade de expandir a POESIA para que nela possa caber mais mundo — terra, água, ar, fogo 🔥

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    1. Interessante comentário, um ponto de vista a tomar em consideração.

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  2. Para mim "os poetas falam tanto da morte" para que quem os ler darem mais valor à vida e desmitificar para o único dado garantido: "ninguém ficará para semente"!
    O que digo está espelhado nestas tuas palavras: "Os poetas falam tanto da morte, para distribuírem vida com as suas palavras"
    Beijocas e um bom domingo

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    1. Obrigado pelo comentário que aprova e reforça o espírito da publicação de hoje.
      Um abraço.

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  3. Posso contrariar um pouco daquilo que aqui está dito?!
    As palavras do poema dão valor à vida. CERTAMENTE.
    Todavia, nem todos os poetas querem que os leitores dêem mais valor à vida.
    Há poetas que amaldiçoam a VIDA e abençoam a MORTE ☠️

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    1. Acredito no que diz mas, só conheço essa particularidade no período chamado Romântico. Talvez haja excepções nos poetas ditos contemporâneos.

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    2. Não podemos dizer que Paul Celan fosse um poeta romântico.
      Quando a minha vida social e cultural acalmar um pouco, vou escrever sobre a MORTE ☠️ na POESIA contemporânea.

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    3. Não pretendo polemizar, no entanto ocorre-me dizer que, como escreveu Yvette Centeno sobre Paul Celan "não se terá conformado Celan com a condição da vida que lhe coube" ou seja, a sua maldição da vida é a dele próprio, não a vida de um modo geral.

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    4. Possivelmente a Yvette Centeno [NÃO sei quem é, penso que tenha a ver com a Poesia de Paul Celan].
      O que escreveu ela sobre a morte de Sá-Carneiro ou até da morte misteriosa de Ingeborg Bachmann?!
      Não há polémica quando não estamos de acordo, Luís, cada um é livre de expressar as suas convicções.

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    5. Eu queria escrever que possivelmente a Yvette Centeno tem razão.
      Que a maldição da vida dele foi ele próprio — concordo absolutamente.
      Certo é, que eu nunca quis convencer ninguém daquilo que penso, portanto, mais uma vez: os meus comentários não são polémicos.

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  4. Estava eu a dizer que me sentia desarmada diante deste belo poema quando o comentário se sumiu diante dos meus olhos...

    Sim, anteontem dei continuidade a um conhecidíssimo verso de Camões que fala da morte, mas tenho a certeza de que exaltei a Vida, ainda que ela sempre nos pareça breve.

    Por outro lado, já estive quatro vezes em paragem cardiorrespiratória da qual só saí graças a complexas manobras de ressuscitação e embora só de duas me recorde como se tivesse sido ontem, sei bem o que se sente quando se perde a vida, nem que seja por uns breves minutos. No entanto, creio que é sobretudo da vida e da complexidade do pensamento humano que falo nos meus sonetos... Creio, já que nunca me ocorreu contabilizar os poemas que dediquei à morte...

    Forte abraço, L.!

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    1. Apreciei o seu comentário com a autoridade que lhe dá esse confronto em que a sua vida saiu sempre vencedora. Defendemos e cultivamos a vida ainda que falemos da morte repetidamente.
      Um abraço.

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