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A sonhar


Trago na mão um livro

 

Sento-me deixando-me cair 

no meu cadeirão de repouso 


Cubro as pernas com uma manta

comprada em Londres 


Meto a mão dentro das calças e ajeito 

o lugar de onde vieram os meus filhos 


Acendo a luz que incide sobre as páginas 

depois de ler sete sem parar

fecho os olhos 


No desespero de um náufrago 

do tempo ___ sonho 


com jogos de berlinde 

ao som das sonatas de Mozart 


com o sabor do primeiro cigarro 

de mão dada com o primeiro amor 


com o dinheiro da reforma que confiro 

a cantar os parabéns do primeiro ano 

do meu primeiro filho 


com a vida na terra da felicidade 

onde cada um tem direito a um nougat 

com um metro por um metro


Acordo quando os óculos caem ao chão 

com estrondo nas profundezas do meu sonho.










12 comentários:

  1. Um belo retrato poético do muito que o homem, que lê, faz. Sou um desses homens.
    .
    Cumprimentos poéticos
    .

    .

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  2. Esplêndido poema, seja, ou não, lido ao som de uma sonata de Mozart!

    Depois do conforto do sonho, o duro despertar para a realidade: somos todos, sem excepção, proto-náufragos na imensidão do mar do tempo...

    Forte abraço, L.!

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    1. Os sonhos têm influência na nossa disposição ao acordar.
      Um abraço.

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  3. Sonhar ao som da música de Wolfgang Amadeo Mozart é gratificante.
    A realidade é apenas um retalho da vida de um poeta.
    A fotografia é linda de morrer e, eu, continuo a tentar decifrar de que livro se trata.

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    1. Gostei da sua frase "A realidade é apenas um retalho da vida de um poeta"

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  4. Aplaudo, efusivamente, tudo: o vislumbre do texto na fotografia, o poema (alguns versos tanto me disseram), a sonata de Mozart.
    Fabuloso, Luis!
    A realidade somos nós que a criamos.
    Beijo.

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    1. A realidade é nossa e os sonhos também... e únicos.
      Um abraço.

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  5. Cidália Ferreira deixou um novo comentário na mensagem "":

    Existem sonhos que são filhos da realidade... Adorei o texto.
    Gosto de Mozart :)
    .
    O silêncio da água a cair... Reedição.
    .
    Beijo
    Boa tarde.

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  6. Um poema muito, muito belo. Tão belo que não tenho palavras à altura para o comentar. Adorei a foto e a sonata. Um post cinco estrelas.
    Abraço e saúde

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