Foto de Daniel Filipe Rodrigues





O fim do mundo na praça onde moro


O mundo está a morrer

na praça onde moro

é o momento oportuno

para a minha confissão ___

___ no meio de tanto alarido

ninguém me escutará

e ficarei de alma limpa

por me ter exposto

ao julgamento público 


O mundo está a morrer

na praça onde moro

e ninguém se importa 

com as minhas declarações 

graves ___ sem lágrimas ___

___ muito cuspidas ___ definitivas

     as ofensas que fiz ao divino

     em voz alta

     a mancha que deixei

     ao engano numa donzela

     a minha fuga com a promessa

     de regresso

     a simulação do prazer ardente

     por compaixão 

     os perdões que declarei

     para dar tempo à vingança 


O mundo está a morrer

na praça onde moro

e o meu corpo cai

sobre a única e própria sombra.




 

14 comentários:

  1. Cada día que pasa, es un día menos de nuestra existencia. Tarde o temprano llegará el final a nuestra vida terrenal y esperemos que todo lo que suceda después sea realmente bueno.
    Besos.

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    1. Llegará el día en que el mundo morirá en la plaza donde vivo. Nunca estaré preparado. Un abrazo

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  2. Que esplêndido, poema! E esquecendo que o tão falado relógio do mundo está a segundos da meia-noite, não há dúvida de que o mundo morre para cada um de nós, quando morremos.

    Para mim, é mais uma constatação da aproximação da morte a um homem que está no centro da sua praça/cidade - ou de si próprio? - do que um anúncio da morte do mundo, sendo que mundo, neste último caso, deverá ser entendido por humanidade. O planeta não morrerá senão dentro de uns milhares de milhões de anos, ainda que cometamos a loucura de nos deixarmos exterminar.
    Um forte abraço, L.!

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    1. Uma análise perfeita do texto de hoje. Um dia faltará a nossa presença na praça onde vivemos.
      Um abraço também.

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  3. Uii este poema é tão profundo que me causou um arrepio!! 👏
    .
    Sou companheira de mim ...
    .
    Beijo. Boa tarde!

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  4. Belo poema !
    Continuação de uma semana feliz.

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  5. Teresa Palmira Hoffbauer15 de março de 2023 às 20:44

    A ciência diz que a Terra possui 4,5 bilhões de anos, e nunca desaparecerá‼️
    O nosso micro-mundo é que morre lentamente na rua onde moramos.
    E a donzela enganada pelo poeta é beleza erótica do passado.
    Vingança é algo muitíssimo feio — uma miúda de 12 anos morreu numa floresta 🌳 e o motivo foi VINGANÇA.

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    1. Nem todas as vinganças têm um carácter violento. Há muitas outras vinganças que não fazem mal a ninguém como por exemplo esconder as chaves do carro ao patrão ou meter o dedo dentro da sopa do colega sem ele ver, etc., etc. preciso é ter imaginação.

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    2. Os exemplos que o poeta dá são brincadeiras de criança e NÃO vingança‼️

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    3. Situações com a mesma inspiração já aconteceram na minha vida real.

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  6. Caro Poeta
    Um poema tenso e irreversivel (a morte)
    Que seja breve, é o que peço.
    Sabe que ao ler este poema seu (muito bem urdido) lembrei de um poema de José Gomes Ferreira que declamei quando andava no ensino básico e que nunca esqueci.
    Vou deixar aqui e peço imensa desculpa se achar que fui inoportuna.
    #
    Devia morrer-se de outra maneira

    Devia morrer-se de outra maneira.
    Transformarmo-nos em fumo, por exemplo.
    Ou em nuvens.
    Quando nos sentíssemos cansados, fartos do mesmo sol
    a fingir de novo todas as manhãs, convocaríamos
    os amigos mais íntimos com um cartão de convite
    para o ritual do Grande Desfazer: "Fulano de tal comunica
    a V. Exa. que vai transformar-se em nuvem
    hoje às 9 horas.
    Traje de passeio". E então, solenemente, com passos de reter tempo, fatos
    escuros, olhos de lua de cerimônia, viríamos todos assistir
    a despedida.
    Apertos de mãos quentes.
    Ternura de calafrio.
    "Adeus! Adeus!"
    E, pouco a pouco, devagarinho, sem sofrimento,
    numa lassidão de arrancar raízes...
    (primeiro, os olhos... em seguida, os lábios...
    depois os cabelos... )
    a carne, em vez de apodrecer, começaria a transfigurar-se
    em fumo... tão leve... tão sutil... tão pòlen...
    como aquela nuvem além (vêem?) — nesta tarde de outono
    ainda tocada por um vento de lábios azuis...

    Autor:José Gomes Ferreira
    .
    Continuação de um dia Feliz para si.
    :)

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    1. Muito obrigado pelo poema que reproduz. Muito belo, uma criação de um grande poeta.
      Um abraço.

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