Foto de Daniel Filipe Rodrigues





Que farei de tanta abundância? 


O último comboio partiu

ao longe o ponto vermelho

vai-se esquecendo aos poucos

as luzes da gare apagam-se

Que farei de tanta ausência 

dos princípios da noite

da madrugada

dos seis jogos de pratos

e talheres

e copos

da lata cheia de bolachas

das roupas da cama

e de duas almofada

dos sapatos de domingo

Que farei das fotografias antigas

da minha voz ___ calada

do chamamento do meu corpo


Que farei de tanta abundância? 

Espero que voltes

para morreres comigo

não demores

ou terei de me deixar morrer sozinho 


Perdi de vista o último comboio.




 

27 comentários:

  1. Teresa Palmira Hoffbauer3 de março de 2023 às 00:38

    Comboio da nostalgia, provavelmente no Museu Ferroviário Dinamarquês.
    A nostalgia do poeta também é evidente.
    Nunca há um último comboio 🚂 Há sempre outros comboios para nos levar …

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  2. Tão bonito! Sedutor, romântico...
    Um convite a partir...

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  3. Bom dia
    Outro comboio virá ! Temos de acreditar !

    JR

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  4. Fiquei encantada com a fotografia da velha carruagem, mas o poema não deixou de me tocar profundamente. A morte é uma viagem que todos fazemos sós, por mais rodeados de gente que possamos estar e a viagem nesse comboio não dura mais do que dois ou três minutos, que é o tempo que um cérebro leva a morrer depois da derradeira paragem cardíaca.

    E agora terei de lhe pedir desculpa por ter maculado a beleza deste poema com este palavreado todo que se me escapou dos dedos, L...

    Forte abraço!

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    1. Nada de desculpas. Os seus comentários são uma referência para mim e gosto das variadas interpretações dos meus leitores.
      Um abraço.

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  5. Gostei imenso deste teu poema e da foto, mas e lá vem o mas, quanto à tua inquietação digo-te o sinto: quem cá ficar que dê a abundância da tralha cheias de recordações. Ao contrário de ti vou-me desfazendo de muita coisa e dou a quem mais precisa.
    Beijos e um bom dia

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    1. Podemos dar a nossa tralha mas não conseguimos desfazer-nos dos nossos pensamentos e recordações. A mim dão-me jeito como fonte dos meus escritos.
      Bom Dia, um abraço.

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  6. - R y k @ r d o - deixou um novo comentário na mensagem "":

    Intenso, profundo, nostálgico. Fica-se assim quando vemos partir um comboio. Gera uma certa emoção sem dúvida, principalmente se estivermos longe de lugares que conhecemos e amamos. ( A nossa Terra de nascimento)
    .
    Fim de semana risonho.

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  7. É uma figura importante na poesia, a do comboio.
    Explorada de tantas formas
    :-)

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  8. Miradas desde mi lente deixou um novo comentário na mensagem "":

    Quizás no tenías aún el billete, que te facilitara la toma de ese último tren.
    Feliz fin de semana. Besos.

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    1. El viaje era para un solo pasajero y de ida, no de vuelta. Un abrazo.

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  9. Boa noite,
    Um poema nostálgico, mas muito belo e profundo.
    Uma partida sem regresso?
    Gostei muito deste poema.
    Beijinhos,
    Ailime

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  10. Partilho e comungo
    de todas as tuas interrogações
    quanto à espera
    não tem cabimento
    ela partiu só
    para meu lamento

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  11. Poema com nostalgia.
    Todos partiremos um dia.
    E sós.
    É triste mas é assim.

    :(

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