Foto do autor do texto




Meu único amigo


Já quase não leio

nem escrevo

estou todo o dia

junto a uma janela

à espera que aconteça alguma coisa


já ninguém me diz ___ espera 

vai acontecer alguma coisa

a luz arrepende-se e retira-se

uma porta abre-se e fecha-se

mas não entra ninguém 

não vejo ninguém 


Já nada me é concedido

a não ser sopa e um murmúrio 

ah ___ e pão 

é importante o pão 

um laço comum ainda 

com o mundo dos outros


está escuro ___ retirou-se a luz

é o momento certo

para terminar o poema

amanhã peço para te enviarem

esta carta poema

meu único amigo.




 


23 comentários:

  1. Tão dolorosamente triste, que não fui capaz de reter as lágrimas. E não consigo dizer mais nada.
    Abraço

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. É importante que o que escrevemos toque a sensibilidade dos leitores. Obrigado Elvira.
      Um abraço.

      Eliminar
  2. A solidão vai crescendo com a idade...
    Continuação de boa semana, caro Luís.
    Um abraço.

    ResponderEliminar
  3. É a realidade de muitos é a tristeza de estarem sós e aqui estou eu pronta a entregar a tua carta/poema sem deixar de te dizer que continuas a ser um menino que sonha consigo mesmo e prova está na foto. É tudo muito triste o que descreves.
    Beijocas e um bom dia

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Obrigado pela compreensão e solidariedade.
      Bom Dia.
      Um abraço.

      Eliminar
  4. Até para mim que amo profundamente a minha solidão criativa, este poema é tão profundo e belo quanto duro e amargo...

    Um forte abraço, L.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Aprende-se a viver com a solidão vivendo connosco, ou seja, com técnicas para a superar.
      Um abraço.

      Eliminar
    2. Tenho sempre a sensação de ter conquistado a minha solidão, mas é bem possível que, como muito bem diz, a tenha aprendido a superar...

      Outro abraço!

      Eliminar
  5. Muy profundo este poema. Expresas muy bien la amargura de la soledad, desde esa ventana, ves la gente pasar y la mayoría de los qu pasan, charlando amigablemente con los amigos. En esa ventana , eres invisible a la vista de los demás.
    Besos.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Muy bien analizado el texto publicado hoy. Estoy de acuerdo con tu interpretación. Un abrazo.

      Eliminar
  6. Ontem à noite a solidão também me visitou.
    Ao ler o poema de madrugada fiquei ainda mais constrangida.
    Vi um homem enforcado na fotografia.

    Saúde, alegria e amor 🦩
    Eu que detesto saudações … continuo comovida.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Não é um homem enforcado... Está vivo.
      São poemas que falam dos aspectos mais preocupantes da nossa vida, mas talvez seja preciso que alguém o faça.
      Obrigado pela sua comoção

      Eliminar
  7. Olá, Luiz!
    Um retrato da solidão (a começar pela imagem ilustrativa) onde só o poema é nosso melhor amigo.
    Muito bonito e real aos poetas de um modo em geral.
    Tenha dias abençoados!
    Abraços fraternos

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Acho que os meus leitores compreendem esta realidade de muitas pessoas.
      Desejo-lhe também dias bons.
      Um abraço.

      Eliminar
  8. Retrato tão provável quanto chocante da etapa final da vida.
    Excelente, Luis.
    Espero que o poeta minta muito...
    Beijo.

    ResponderEliminar
  9. © Piedade Araújo Sol (Pity) deixou um novo comentário na mensagem "":

    Duro e forte.
    Até a foto mexeu comigo.
    E eu não gosto de chorar.
    mas...

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Um comentário que tomo como um elogio à publicação e que agradeço.
      Um abraço.

      Eliminar
  10. Um mundo à parte, o mundo solidão com fronteiras pouco definidas, um mundo imensurável que nem sempre está à janela, ou abre a porta para arejar e o pouco que se vê, já é muito e doloroso, existe nele um poço iniciático e quem lá mergulhe, raramente retorna.
    Kandando.

    ResponderEliminar