Lá vou sonhar
Sentemo-nos à beira das águas deste rio
meus filhos
Deixo-vos um mundo doente assumo
a minha parte de responsabilidade
fui fumador
guerreei
fui predador dos alimentos
que defequei e urinei
e respirei ___ toda a vida sem intervalos
durante esse acto repetido da respiração
nenhuma dúvida me convocou
nenhum alerta
nenhum discernimento
que me obrigasse por dever de consciência
ao movimento de um abaixo-assinado
a favor da nossa extinção
lenta e ordenada
que tomasse em conta as prioridades
a estabelecer pelos entendidos
por nós nomeados
segundo as suas competências
assim como se elaborassem
uma reforma do planeta
o fim das fronteiras
o fim das instituições
o fim do homem
o fim do mundo
de modo a evitar os exageros caóticos
das guerras e dos atentados
que poderão levar ao mesmo fim
os cataclismos deixariam aos poucos
de ser uma ameaça ___ o silêncio voltaria
aos vales
às planícies
às montanhas
e o som do vento e das brisas
cantaria passando por entre as árvores
e substituiria as vozes humanas
a natureza voltaria ao seu equilíbrio
que foi sonhado por um qualquer deus
que foi inventado pelo homem
e que morreria com ele
Agora
na minha morte
aqui está o meu cadáver
o último acto poluente que vos deixo
meus filhos
este poema será apenas um papel
amachucado que seguirá comigo
rio abaixo
lancem-me agora às águas ___ vá
deixem-me lá sonhar!


Um poema extensivo da realidade que se vive actualmente como um murro no estômago! Um testamento que eu não faria melhor embora eu pense sempre numa realidade mais otimista!
ResponderEliminarA primeira foto levou-me à minha juventude quando fiz natação competitiva e os treinos era numa plataforma idêntica na baía de Luanda. Belos tempos e mal sabia que pouco tempo depois estouraria uma danada guerra civil que felizmente sobrevivi!
Beijos e um bom domingo
O texto publicado teve o imprevisível efeito de a transportar ao seu passado. O seu reconhecimento de que não faria melhor este testamento, deixa o autor convencido da valia do que aqui deixou escrito.
EliminarUm abraço.
Miradas desde mi lente deixou um novo comentário na mensagem "":
ResponderEliminarSi no ponemos remedio, vamos a dejar un mundo contaminado y eso es responsabilidad de todos los que habitamos en él.
Besos.
El mundo está entrando en un estado terminal. La codicia del capitalismo eventualmente causará la extinción de la vida. Un abrazo.
EliminarA lindíssima fotografia do filho mais velho dá alguma luz na escuridão do poema.
ResponderEliminarPalavras de brutais, embora poéticas, de sobrevivência marcadas de um tom eletrizante.
Gostei da análise da publicação de hoje.
EliminarQue belíssimo poema, L.!
ResponderEliminarNão vejo nele escuridão nenhuma, a menos que seja a da antecipação da morte do poeta... E todos nós cabemos ou caberemos um dia neste poema profundamente datado pelas alterações climáticas, o que lhe não retira um único pingo de valor.
Parabéns e um forte abraço!
Sinto-me confortado com a sua opinião que vai direitinha ao meu pensamento.
EliminarUm abraço.
É certo que em muito e há muito ultrapassámos aquilo que o planeta pode assimilar.
ResponderEliminarO que deixamos de exemplo para com o ambiente aos nossos, poderá ser positivo mas, não se livrarão de gravíssimos problemas para enfrentar e tentar remediar.
O alerta nas suas palavras aqui partilhadas, dá nota disso e numa tónica grave para que se sinta o peso dessa herança.
O homem nem para si próprio toma as devidas precauções, dificilmente o fará pensando no outro.
A todo o instante vemos a preocupação momentânea de chegar onde se quer, sacrificando o futuro, tudo e todos, tal como se não houvesse amanhã e não tivessem filhos, netos, família a quem irão entregar uma autêntica lixeira e onde respirar não será fácil.
Este é um poema de consciência que gostei de ler.
Um kandando com votos de um bom final de domingo.
Apreciei e tomei em conta as suas sensatas palavras, que agradeço.
EliminarUm abraço.
Uma excelente fotografia.
ResponderEliminarUm poema retrato da realidade deste mundo em que vivemos. Um alerta, e uma pedrada no charco da nossa vilania para com o planeta e a vida que deixamos para as próximas gerações.
Abraço e saúde
Um perigo à beira de ser tarde para o evitar.
EliminarUm abraço.
Anónimo
ResponderEliminar"Bastava-nos amar. E não bastava
O mar. E o corpo? O corpo que se enleia?
O vento como um barco: a navegar.
Pelo mar. Por um rio ou uma veia.
Bastava-nos ficar. E não bastava
O mar a querer doer em cada ideia.
Já não bastava olhar. Urgente: Amar.
E ficar. E fazermos uma teia.
Respirar. Respirar. Até que o mar
pudesse ser amor em maré cheia.
E bastava. Bastava respirar
A tua pele molhada de sereia.
Bastava, sim, encher o peito de ar.
Fazer amor contigo sobre a areia."
Joaquim Pessoa.
Descanse em Paz, Poeta!
Muito obrigado.
EliminarCaro Poeta/Pintor
ResponderEliminarUm poema excelente mas que me causou desconforto.
Fala da morte e embora ela seja certa, náo sei lidar muito bem nem com a palavra em si.
Se lermos com atenção o poema é uma forma de uma ultima vontade do Poeta, e a foto de suporte está a suavizar o tema.
É curioso que eu também digo, que as minhas cinzas sejam lançadas ao mar.
Boa semana com saúde e harmonia.
:)
PS:Não tenho tido muita sorte em comentar, comento, mas desaparecem quase todos.
A morte é um tema infindável para todos os poetas, mas incómodo também.
EliminarHá comentários que não entram aqui no blog mas eu vou buscá-los ao mail e publico-os aqui. Os seus também.