Foto de Daniel Filipe Rodrigues




Naufragando


Onde estou agora

quem me convocou

por que correm aquelas mulheres

com as saias ao vento

por que me pintaram a boca

com a cor do areal

sem mar à vista

e me puseram na ideia o desejo

como braços que me estrangulam

mato-me uma vez e outra

nestes naufrágios 

a que as mãos me obrigam.




 

13 comentários:

  1. Vestígios das memórias e fantasmas que habitam a mente do poeta.
    Envolvente obra sombria e poética.
    A fotografia é fenomenal como o efeito do tempo e da perda.

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  2. Fantasmas que te assolam poeta e ficas tal como o barco da foto que o tempo faz mazelas.
    Gostei embora não consiga responder à tua pergunta tão inquietante!
    Beijos e um bom sábado

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    1. Eu sou esse barco
      Minha alma está nesse estado

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    2. A nossa vida está cheia de perguntas sem resposta, nem mesmo àquelas dúvidas em que teríamos de ser capazes de responder, por vezes não conseguimos... por várias razões e inibições.

      Rogério, o teu barco está em reparação e vai voltar a navegar.

      Um abraço para, ambos.

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  3. Todos os dias nos levantamos, nos fazemos ao mar e naufragamos, para resgatarmos a Barca e, de novo, nos fazermos ao mar. Isto foi-me ensinado por um Náufrago Perfeito e nunca duvidei de que assim fosse, menos ainda agora que me sinto naufragar no final de cada poema que alinhavo e deixo estendido à beira mar, para que possa descer ao fundo dos oceanos e resgatar a minha naufragada Barca.
    Claro que todos nós sabemos que um dia não mais resgataremos coisa nenhuma, já que esta é uma metáfora da vida e vida, mais tarde ou mais cedo, terá um fim para cada um de nós, fim esse que será simultâneo ao nascimento das primeiras barcas e naufrágios dos que se nos seguirão.

    E peço desculpa, L., mas julgo que me perdoará pois é evidente que a leitura do seu poema me entusiasmou ao ponto de escrever tudo o que escrevi. E foi no belíssimo final que encontrei a similitude entre o que por aqui deixei - "mato-me uma vez e outra/nestes naufrágios/a que as mãos me obrigam."

    Forte abraço!

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    1. Só posso agradecer-lhe o comentário que é um texto muito interessante e que me proporciona a leitura, várias vezes, do texto que eu próprio escrevi.
      Fico-lhe reconhecido. Um abraço.

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  4. Miradas desde mi lente deixou um novo comentário na mensagem "":

    Siempre hay fantasmas que acuden a la mente , formando malos recuerdos del pasado. Como el pasado, no se puede cambiar, hay que hacer lo posible por olvidarlo y lanzar la vista hacia adelante y hasta un futuro prometedor.
    Siempre hay que mantener la esperanza, de lo que va a venir, será mucho mejor.
    Besos.

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    1. Buen consejo, luchamos toda nuestra vida tratando de olvidar. Un abrazo.

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  5. Elvira Carvalho deixou um novo comentário na mensagem "":

    Cada dia que vivemos, é uma constante luta para equilibrar a barca da vida, num marque a que o tempo trás mais tempestades que calmaria. Gosto da imagem. Há anos fiz uma visita a uns estaleiros . E tirei várias fotografias de barcos em reconstrução.
    Tenho estado com problemas com a Internet, que vem intermitente e dura pouco tempo. Ontem estiveram aqui os técnicos trocaram o router, mas a ver se daqui em diante já não há falhas.
    Abraço e saúde

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    1. Tentamos equilibrar o barco, é verdade, mas em caso de naufrágio... não sei nadar.
      Saúde, para si e para o seu router.
      Um abraço.

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  6. Caro Poeta/Pintor

    Um poema que faz parte de um pesadelo.
    Logo acordará e o sol nascerá.
    À tarde o poema será de outras cores e de nascentes puras e frias.
    Por vezes é preciso aniquilar os nossos fantasmas.
    Boa semana com saúde.
    :)

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