Sou


um solitário ouvidor de música 

uma ave perdida do bando

a perna mais curta de uma cadeira

a tecla desafinada de um piano

a tosse no meio da missa

o momento doloroso da rendição 

o prisioneiro com a chave da cela


talvez seja por isto que não queres

os teus seios entre as minhas mãos 

sendo assim as minhas mãos 

escrevem um poema


Sou um poeta que se afoga

nos seus próprios versos.

 


 

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Louise Glück
1943 - 2023


 

14 comentários:

  1. Teresa Palmira Hoffbauer15 de outubro de 2023 às 02:28

    „Birth, not death, is the hard loss. / I know. I also left a skin there“.

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  2. A poesia como receptáculo das dores do mundo.
    Admiro-o, caro poeta.

    E acompanho-o na homenagem a Louise Gluck (não tenho o trema)

    Um abraço
    Olinda

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  3. Uma magnífica homenagem de despedida!
    Beijos e um bom domingo

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  4. Teresa Palmira Hoffbauer15 de outubro de 2023 às 14:10

    „Eles vão... a obra fica.“
    Mesmo assim…
    Afogue-se nos seus próprios versos — mas continue vivo.
    Precisamos da sua POESIA que às vezes nos surpreende, outras vezes nos comove e certas vezes nos irrita. Mas sempre nos maravilha.

    Entretanto, o POETA conhece tão bem os meus gostos que nem é necessário deixar elogios à FOTOGRAFIA — e ao POEMA também não 🦋

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    1. Este autor, sem pretensões, encontra no seu comentário a satisfação do objectivo da sua escrita. Sinto-me compensado.
      Agora, embora contra a vontade da leitora, tenho de lhe enviar um abraço.

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  5. Deixaste-me sem palavras!

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  6. "Somos todos sonhadores; não sabemos quem somos."
    Linda e merecida homenagem a Louise Glück.
    Gostei da sua caligrafia, Luis. Espero vê-la em poemas seus por muito tempo.
    Beijo, boa semana.

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    1. Muito obrigado. Deixarei algumas páginas manuscritas como se fossem fotografias do meu íntimo.
      Boa semana.
      Um abraço.

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  7. Gostei deste poema em homenagem à Louise Glück
    Não sabia que tinha partido
    :(

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