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A finitude do mundo


É tarde no campo ___ estamos 

lado a lado 

Outono é o lugar

ao longe avistamos duas figuras

lado a lado

reconhecemo-nos curvados e lentos


alguém diz o teu nome

com surpresa olhas para trás 

e vês-te a ti própria

apontando para as duas figuras

que passeiam depois do Outono

curvadas e lentas


dizes

descem as horas 

sobre a minha emotividade

e o que dizes não tem mais palavras 

nem cruzar de dedos

nem lágrimas 


penso

nada do que dizes ofende

a brancura da minha velha casa

apenas me surpreende a ousadia

de tentares a demolição 

do lugar que habitas


olhas para trás de novo

dizes o teu próprio nome

mas não há ninguém ___ e já é noite

ao longe as duas figuras

estão ainda mais longe

mais curvadas e mais lentas


agora temos luz

apenas sobre os nossos rostos

no crepúsculo 

o meu desânimo confirma

a finitude do mundo

ainda que tu não o saibas.



 

19 comentários:

  1. Sabe,
    A poesia tem esse poder
    de me fazer ou de nós fazer
    imaginar cena a cena.
    Lindos versos!
    Bjins
    CatiahoAlc.

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    1. Esse é um objectivo do autor. Fico contente com este seu comentário.
      Um abraço.

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  2. Bom dia
    Onde vais buscar tanta coisa bela todos os dias ?

    JR

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    1. O seu comentário sensibilizou-me.
      Muito Obrigado.
      Um abraço reconhecido.

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  3. Teresa Palmira Hoffbauer3 de dezembro de 2023 às 12:28

    O motivo da fotografia é deveras interessante.
    Dalai Lama e discípulo ainda no bom caminho — antes do conflito da língua.

    O mundo não tem fim — é ilimitado.
    O ser humano sim, é finito e, todos nós, sabemos isso.

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    1. O mundo só existe enquanto cada um de nós existir, o que fica é o mundo de cada um dos outros.

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    2. Teresa Palmira Hoffbauer3 de dezembro de 2023 às 13:22

      É um depoimento individualista‼️

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  4. O que eu quero dizer, é que o ser humano é absolutamente irrelevante.
    Mesmo sem poetas, o sol continua a nascer 🌞
    Acredito na eternidade do universo.

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    1. Essa é uma forma inteligente de enfrentar a finitude do mundo... sem medo do fim.

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  5. Gostei muitíssimo do poema e da imagem, mas no estado em que me encontro penso que nada do que disser poderá fazer justiça ao que li e visualizei...

    Um forte abraço, L.

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  6. Gostei da imagem e do poema. Às vezes onde tudo acaba é onde tudo começa.
    ~CC~

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    1. Curioso o seu comentário, pensando bem é capaz de ser mesmo assim.
      Muito Obrigado.

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  7. Gostei da imagem.
    Gostei do poema.
    A vida a passar.
    O fim a brilhar.
    Mas há fins que são falsos.
    São apenos recomeços.
    Boa semana com muita saúde.
    :)

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