Foto do autor do texto tomada do documentário VIDA SELVAGEM


Esquecer a infância 


Já não é nossa a nossa infância 

faríamos melhor esquecer o tempo 

que julgámos nosso para sempre

a infância já não existe

apenas somos o resultado dela


ou seja

os temores sempre nos nossos bolsos

ainda que estejamos nus 

os sustos que inventamos nos sonhos

a imaginação sobre o devir que julgámos ser o nosso

tudo em escombros

mesmo que não o admitamos


Afinal que memória nos liga ainda a esse tempo

a esse quarto quase escuro ___

___ senão o calor do gato

que dormia na nossa cama? 


entremos no búzio que trouxemos e que tem dentro 

um mar que não existe em nenhum lugar

ajudará a esquecer o tempo que julgámos nosso

já não é nossa a nossa infância 


enfrentemos com coragem os vultos da morte ou

a própria morte quando ela se der a conhecer

ela será indulgente connosco desde que 

não mostremos nos olhos a nossa infância 

e lhe revelemos o nosso maior desejo


eu

a única coisa que lhe vou dizer 

é que sempre quis ser poeta

a morte tem um lugar diferente para os poetas

levarei alguns poemas para a impressionar

talvez ela ache que mereço esse lugar.




17 comentários:

  1. Como esquecer
    um tempo
    que tenho
    sempre presente?

    Mas aceito
    e compreendo
    o teu poema

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  2. Teresa Palmira Hoffbauer9 de dezembro de 2023 às 00:33

    Na infância, aprendemos acima de tudo a ser criativos.

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  3. Gostei muito do poema, todavia toda a vida fiz por esquecer a minha infância, com pouco resultado. Como esquecer a fome, não de comida que nunca faltou, embora pobre e pouco variada, mas de carinho, que os pais sempre a contar os tostões, estavam mais preocupados em nos forrar o estomago com alguma coisa, em nos cobrir o corpo do frio, do que em nos dar um beijo, uma festa na cabeça, um sorriso. Hoje eu entendo-os, mas não deixo de sentir que me foi roubada uma infância cuja recordação me trouxesse alegria no resto da vida. Quanto à morte também não a encararei com alegria, irei com ela quando chegar a hora, mas não tenho pressa nenhuma. Como não sou poeta, não posso sonhar com um lugar especial, e por cá ainda tenho tantos sonhos por realizar.
    Abraço e saúde

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    1. O seu comentário é muito importante para mim que escrevi este texto. Confirma que há quem não tenha felizes recordações da sua infância, embora em adulto acabemos por compreender as circunstâncias que originaram as dificuldades desse período da vida.
      Saúde, um abraço.

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  4. Um poema que retrata muito bem as tuas memórias de infância e caminhar na vida imensamente nostálgico! Deverias ser um gaivota ou melhor dizendo narrar as partes boas da vivência. Foi que senti!
    Beijos e um bom dia

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    1. A infância é determinante para o nosso futuro.
      Bom Dia.
      Um abraço.

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  5. Há muito tempo que não lia aqui um poema que gostasse tanto e tanto me dissesse.
    Se bem que a minha infância seja sempre minha! Não a quero perder, isso seria muito mau...
    .

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    1. Todos conservamos, da nossa infância, alguns momentos mais alegres mas, muitos de nós, temos na apreciação geral desse período uma certa mágoa de não ter sido uma "festa", as circunstâncias assim determinaram.
      Obrigado.

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  6. Bom dia
    Impossível esquecer o melhor da nossa vida .
    Creio que foi isso que entendi.

    JR

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  7. Todos os meninos deviam receber de presente "o poeta aos dez anos". Não para se tornarem poetas mas para aprenderem a entender o sentido poético que a vida contém, a observar e a ver que uma coisa se pode ver de muitas maneiras, a retirar a beleza que mora nas palavras, nas pessoas e nas coisas. A morte receberia assim cada pessoa com o bocadinho de poeta que ele contém. A si, por certo ela reservará um lugar especial, não são muitos os que conseguem escrever um poema todos os dias.

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  8. Corrigindo: O poeta faz-se aos dez anos (de Maria Alberta Menéres)

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    1. Isso era uma boa ideia, fornecer esse livrinho nas escolas.
      Estou a fazer os possíveis para ter o lugar especial... esforço-me.
      Um abraço.

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