A primeira morte do meu pai
O meu pai vem devagar
pelo corredor ___ longo ___
da nossa casa
há pouca luz no tecto branco
o meu pai apoia-se
com a mão direita na parede pintada
com decoração a imitar mármore
o meu pai cai de joelhos
e depois sobre o seu lado esquerdo
há um cheiro estranho no ar
eu grito
mãe!
o meu pai não fala ___ parece morto
o seu corpo expeliu o que estava
a mais ___ o que o estava a matar
senti que era o fim do mundo
que mais tarde descobri ser pânico
o meu pai morreu pela primeira vez
nesse dia
eu fui valente e não chorei
o meu pai morreu a última vez
quarenta anos depois
foi há muitos anos
eu fui valente e não chorei.
Como assim, não chorou? Se fosse eu morria junto com ele, mas, felizmente o meu está vivo e bem vivo, graças a Deus.
ResponderEliminarNo meu tempo de jovem dizia-se "um homem não chora", e assim foi.
EliminarUm abraço.
O Autor tem muitos traços (fisionómicos) do Pai.
ResponderEliminarNo resto, não sei...
Só vim dizer-lhe isto.
(sou a VOZ que fala em silêncio, sabe quem é? )
Estou de acordo com a avaliação da fisionomia.
EliminarNão consigo ainda determinar este leitor que se assina A VOZ mas que também se diz Anónimo. Há mais anónimos por aqui, de vez em quando. Agradeço a atenção que dedica aos meus escritos.
EliminarNão tem de quê!
E não, não me digo anónimo. Algo, ou alguém, me forçou a tal.
Uma vez que o nome não o conduz a lado nenhum, obviamente, que será o mesmo que um anonimato disfarçado.
Se lhe disser que a culpa é sua, fica a saber quem sou?
Tenho culpas de certas coisas na minha vida, (quem as não tem?) mas por essa via não chego ao lugar que deseja.
EliminarMuito Obrigado pelo interesse.
Outros tempos em que um homem não devia mostrar emoções o que desde pequena não aceitava de jeito nenhum. Para mim não é nehum acto de valentia. Há quem chore com facilidade outros não mas não deve ter a conotação de tempos que nem quero recordar.. Uma foto muito bonita!
ResponderEliminarBeijos e um bom domingo
Tempos obscuros, concordo.
EliminarUm abraço.
Cobarde, porque seguiu as regras de uma sociedade idiota — e não chorou.
ResponderEliminarCorajoso na velhice, escreve sobre um acontecimento terrível.
O poema confirma o que eu sempre pensei sobre a causa da escuridão na sua poesia.
A mesma escuridão que Paul Celan — e também sabemos o motivo.
Cara senhora, devia saber que a uma criança não se chama cobarde!
EliminarDigo-lhe isto, porque sei que o autor jamais cometeria essa indelicadeza - no entender dele, claro.
Assim, como expressar essa ideia de velhice...A senhora que idade tem?
Com 5 ou 6 anos não conhecemos os conceitos de cobardia ou até de valentia. Hoje interpretamos à luz da nossa experiência de vida.
EliminarNão vale a pena zangarem-se, o autor faz da poesia um acontecimento em que os espíritos se elevam, a poesia não pode ser motivo de desentendimento. Agradeço no entanto à VOZ DO SILÊNCIO que, neste momento, falou alto para preservar o autor de qualquer desgosto.
Um abraço a ambos os leitores.
Boa tarde Luís,
ResponderEliminarUm poema íntimo que muito me emocionou.
Demonstrou uma enorme força perante factos tão dramáticos na vida de uma criança e não só.
Beijinhos,
Emília
Um acontecimento que se repetiu mais duas vezes até ao derradeiro.
EliminarUm abraço.
O pânico apodera-se do nosso coração, quando vemos aqueles que amamos, sofrer ou partir e cada um de nós, tem a sua própria forma de sentir e viver essa terrível dor.
ResponderEliminarUm poema profundo que toca a nossa alma de leitores.
Abraços
Momentos de aflição... inesquecíveis.
EliminarUm abraço também.
Na minha meninice era eu quem dizia a mim mesma que uma "mulher" não chora... Quando a minha segunda figura materna, a mãe do meu pai, morreu com apenas 61 anos, tive de engolir as palavras porque, às lágrimas, não as consegui engolir.
ResponderEliminarTocou-me profundamente esta primeira morte de seu pai, L.
Forte abraço!
Hoje é difícil controlar as lágrimas nem que seja nos primeiros momentos de um concerto.
EliminarObrigado.
Um abraço.
Quero pedir mil desculpas pela minha falta de tacto.
ResponderEliminarAinda há muito pouco tempo, aconteceu na minha família um caso idêntico.
A filha encontrou o pai desmaiado no quarto de banho.
Não chorou e chamou a mãe.
Apesar dos seus seios anos, tem uma veia artística acentuada, mas desde esse dia, somente desenha com lápis preto. Nem mesmo no. Carnaval os seus trabalhos têm uma nuance colorida.
Um caso idêntico, pelos vistos.
EliminarPor vezes a emoção tem de nós reacções inexplicáveis, compreendo-a, nada a perdoar, é positivo falar e deixar a sensatez
revelar-se.
Foquei-me mais na resistência deste pai que se foi recusando a morrer, essa luz também o autor tem, não apenas a escuridão.
ResponderEliminarUm abraço
Que gosto para o autor receber este seu comentário.
EliminarObrigado.
Um abraço.
Perante este poema recolhi-me em mim mesma,
ResponderEliminarsem.palavras. Dor assim não consigo comentar.
Um.abraco
Olinda
Compreendo. Muito obrigado pela sua vinda.
EliminarUm abraço.
Caro Poeta/Pintor/Fotógrafo e Amigo
ResponderEliminarEu não fui valente, desfiz-me em lágrimas e achei que chorei tudo o que havia para chorar, mas depois levei mais de vinte anos sem verter uma lágrima que fosse.
Só o voltei a fazer novamente, ao ler uma crónica do MST na revista Máxima. Na altura escrevi uma espécie de crónica e enviei para lá, foi publicada ao lado da foto do MST, o que muito me sensibilizou, ainda tenho a revista guardada.
As lágrimas não lavam a dor que carrego comigo e que nunca consegui superar.
Este poema comoveu-me até às lágrimas.
Um abraço
:(
Compreendo a sua dor.
EliminarUm abraço.