Elas amanhecem no café
De tão cedo parece que acordam
sentadas à mesa ___ juntas
nunca são menos de três e nunca mais de seis
ocupando então duas mesas
com falas e gargalhadas que ocupam
todas as mesas do café
são o eco umas das outras
são irmãs no que consomem
um carioca e um queque
e falam no que as consome por igual
sentem-se igualmente injustiçadas
no fim das suas vidas profissionais
e pelos maridos inúteis que têm em casa
todas regressaram aos estudos na universidade
e omitem “sénior” quando falam disso
o que lá aprendem interessa-lhes pouco
o que conta são as excursões
já foram ao Porto e ao “Passeio dos Três Castelos”
gostam dos espectáculos do coro
de que não fazem parte
só lá andam as que “têm a mania”
e a professora é “aquela embirrante das finanças”
também gostam dos aniversários umas das outras
levam um bolo sem decoração
e dizem ter menos dois ou três anos
todas percebem mas todas fazem o mesmo
elas nunca viajaram para “o estrangeiro”
mas vão muitas vezes “à terra” que é a mesma
do marido onde afinal se conheceram
e dizem
nunca conheci outro homem
Deus me livre!
sonharam ir à Madeira que é quase ir ao estrangeiro
mas nunca acordaram com a mala feita ___
___ os filhos depois os netos
precisam muito delas ___ agora é tarde
e temos de estar perto do hospital
podemos ter uma urgência
como quando o marido ficou aflito da próstata
nada de grandes ausências de casa
já não somos novas
já não há diversão ___ nem em casa
porque sou velha mas ainda gosto
diz uma e as outras aprovam suspirando
mais valia irmos para freiras
diz uma e as outras riem alto
e dobram-se batendo com as mãos no colo
são horas ___ no café vão pôr as mesas
para os almoços
acabou a liturgia dos sábados de manhã
contrariadas voltam ao convento
para mais uma semana
de rezas entaladas na garganta.
Na próxima vez que estiver com o meu grupo no café francês.
ResponderEliminarE descobrir um poeta que nos observa.
Como falamos muitíssimo baixo, não sabe o que estamos a dizer.
Então, vou ter com ele e pergunto-lhe, se quer fazer parte do nosso Círculo Literário, onde lemos romances antigos sobre amores antigos, um fascínio.
A fotografia é interessantíssima.
Os amores antigos reencontram-se nos personagens e nas suas liturgias dos sábados de manhã.
EliminarGosto de poemas que contam histórias. Também é das minhas actividades preferidas: observar e registar.
ResponderEliminarO que nos rodeia é matéria prima para a poesia.
EliminarAutêntico! Sem mais nem menos.
ResponderEliminarGostei do ritmo e da verdade da história.
Um abraço
Olinda
Situações que se repetem em vários lugares deste nosso mundo.
EliminarUm abraço.
beber palavras no dia a dia.
ResponderEliminargostei sim
Acontecimentos comuns... também podem ser poesia.
EliminarObrigado.
Que fabulosa "curta metragem" de uma manhã de Sábado na esplanada do café...
ResponderEliminarDificilmente me encontraria nela, que só ao fim da tarde vou ao cafezinho para ficar a tentar aprender um pouco mais de Ciência com um cientista irlandês... e, às vezes, até aprendo qualquer coisa, ainda que sejam extremamente complexos os temas abordados. Depois vem uma amiga brasileira que quando não vem exausta do trabalho, "bota fogo" na mesa inteira :)
Um forte abraço, L.!
Os cafés como centro de convívio.
EliminarUm abraço.
Gostei imenso deste post que realmente muitos grupos fazem isso e olha que ri com vontade:)
ResponderEliminarA foto está um must:)
Beijos e uma boa tarde
Sim, já vi situações como esta.
EliminarUm abraço.
Adorei!
ResponderEliminarMeus parabéns, porque isto é pura realidade.
Gostei deveras...
Abraço
Fico muito agradado com o seu comentário.
EliminarUm abraço.
Boa tarde Luiz,
ResponderEliminarGostei imenso deste poema pela situações aqui descritas, porque ia visualizando esta realidade tão atual e verdadeira.
Até me fez sorrir, porque me identifiquei nalgumas das situações;))!!!
Beijinhos,
Emília
O seu sorriso é um prémio para mim.
EliminarObrigado.
Um abraço.
Caro Poeta
ResponderEliminarSorri ao ler este seu poema tão real, que é tal qual o que vejo no café, sempre que vou lá, seja à hora do pequeno almoço, e pela tarde pela hora do lanche, quando vou tomar o café.
Delicioso de ler.
;)