Um homem sente um grande conforto para o seu intelecto
com o piano de Maria João Pires
O homem está sentado na sua vida sem conforto
agora que está sozinho depois do falecimento
daquela com quem se sentava à mesa e com quem falava
acreditavam nas palavras como alimento do destino de ambos
depois do falecimento daquela com quem se deitava na cama
acreditavam que na mistura dos corpos se perpetuava a vida
o homem está sentado na sua vida com a vertigem da solidão
tenta apagar o nome da mulher das suas mãos
agora está sentado na sua vida sem conforto
e com o desejo a rastejar no interior do ventre
o homem passou a sentir os seus dias como uma ferida
e por isso pensou cortar as condutas do sangue do seu corpo
num sítio fatal como se pudesse assim viajar até ao país dos mortos
onde decerto estava aquela
com quem comia à mesa do destino
e se deitava na cama do tempo
ela era quem guardava o seu desejo
no lugar recôndito do seu corpo de mulher
ela era quem guardava a sua melancolia que trazia desde a infância
causada pela triste ausência das palavras da sua mãe
agora o homem está sentado na sua vida
ouve um piano que abre uma brecha na melancolia
que agora não tem lugar onde guardar
e isso é confortável para ele ___ o medo da solidão interrompe-se
embora ele saiba que voltará a suar de pânico
o som do piano é um conforto para o seu intelecto
ele esqueceu-se do início da noite porque está a meio da tarde
e ouve o piano
o homem é agora um sucedâneo de si próprio
ele sente o conforto de já não ter de esperar nada
nem amor nem amizade nem o romper da virgindade
o homem adormece ao som do piano
enrugado ___ sem cabelo e com os lábios roxos.
Um belíssimo poema! Um toque de saudade
ResponderEliminardo que se foi e não volta.
Maria João Pires, com o seu piano,
Interrompe a solidão de seja quem for, não há dúvida.
Um abraço
Olinda
A descrição da dor.
EliminarUm abraço.
A música suave do compositor francês, interpretada magistralmente pela pianista portuguesa, não sintoniza com a força do poema.
ResponderEliminarProvavelmente, o poeta escolheu uma música suave para acalmar as leitoras mais sensíveis.
Summa summarum: poema impressionante.
A música suave conforta o intelecto do homem, não pretende acalmar ninguém a não ser o homem do poema.
EliminarO autor agradece a classificação.
Lindo,forte e triste poema e a foto fala muito! abraços, chica
ResponderEliminarMuito obrigado.
EliminarUm abraço.
Bom dia
ResponderEliminarQuando não há muito a dizer , se não :
Obrigado por estes momentos maravilhosos .
JR
Só posso agradecer-lhe o simpático comentário.
EliminarDeixo um abraço.
Seja, ou não, o autor o homem do poema, há muito que um poema e/ou um homem me não comoviam tão profundamente.
ResponderEliminarAgora sim, leio e contemplo a verdadeira expressão da solidão.
Um abraço, L.
Quando se escreve, o autor acaba por se confundir com o personagem e o personagem acaba por se confundir com o autor.
EliminarTomo o seu comentário como um elogio.
Um abraço.
Boa tarde Caro Poeta/Pintor e Fotógrafo
ResponderEliminarUm poema realista, forte e demasiado doloroso, que me comoveu imenso.
Um abraço.
:(
O autor fica satisfeito quando toca a sensibilidade dos leitores.
EliminarObrigado.
Um abraço.
É triste quando quem amamos parte assim, lutamos contra quem teve armas que nós não temos (a morte). É igualmente triste quando a partida se faz por escolha de quem escolheu partir e nem sabemos bem contra quem lutar ou contra quê. Aceitar a morte de um amor é sempre muito doloroso. Buscar paz na música parece-me sábio, mesmo que essa paz dure o tempo que ela dura.
ResponderEliminarAí está, no seu comentário, a explicação da dor e a fuga sem sair do mesmo sítio.
EliminarUm abraço.
A vida sentou-se em cima do homem
ResponderEliminare ele suporta-lhe o corpo e a canção
E qual era a letra?
O teu poema!
Para canção falta a música.
EliminarMuito forte.
ResponderEliminarNão deixa ninguém insensivel...
Muito obrigado.
EliminarEterniza-se o momento com poema e piano.
ResponderEliminarDe tão lindo, é tão triste.
Obrigada _ saio com vontade reler e reler ouvir
o piano mais vezes.
Um abraço
Quando se faz uma nova leitura acontece apreendermos pormenores que nos escaparam antes.
EliminarUm abraço.