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A memória como uma escultura


A ausência é 

um lugar côncavo no sofá 

uns quantos cabelos murchos numa escova

uns silenciosos sapatos já sem uso

uma argola sem guardanapo

uma chávena com uma boca impressa

uma caixa cheia de angústias 

escritas em papéis soltos 

um calendário de dias cansados

com anotações 


a ausência está 

em todas as coisas que estão presentes

não guardei um rosto depois da ausência 

mas tenho uma voz no desfiladeiro da memória 

com sonoras promessas

acreditando que o mundo já não acabava

e que tudo se cumpriria


afinal o que fez de nós esta presença comum

de dia atrás de dia até esta surpreendente 

manhã de Setembro? 

para mim criou apenas uma memória 

de pedra como uma escultura.



 

10 comentários:

  1. Rogério V. Pereira23 de maio de 2024 às 00:31

    Sou,
    frequentemente
    um não-ausente
    mesmo quando
    não estou presente

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  2. Sim a nossa memória é uma autêntica escultura de coisas boas e más e a tua é bastante sofredora. Mesmo assim gostei!
    Beijocas e um bom dia

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    1. Vamos conservando a escultura para que ela resista ao tempo em bom estado.
      Um abraço.

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  3. Caracterização perfeita da ausência, na primeira estrofe.
    Tudo nos lembra o ausente, a tal ponto que se torna
    numa presença. É a tal escultura de que fala.
    Abraço
    Olinda

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  4. Miradas desde mi lente
    Cada cosa de la casa, te puede traer recuerdos, de esa persona.
    Un abrazo.

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    1. Muchos recuerdos permanecen con el tiempo.
      Un abrazo.

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    2. Voz / Promessas / Memórias!
      Um dia a ausência deixará de ser angústia!
      Fiquei a pensar nessa manhã de Setembro...

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    3. Um dia a ausência será não apenas do ausente mas também daquele que ficou. Num mês e numa hora qualquer.

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