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Um de nós continuará 


No nosso passeio contrariado

fomos deixando pela rua 

as nossas palavras mais incómodas 

aquelas de que não gostávamos

e que o outro se recusava a receber

excedentes dos nossos diálogos 


deste passeio um de nós 

já não regressa e ambos sabemos qual 

abandonadas as palavras sem sentido

ficaram as essenciais 

as necessárias à despedida

só um continuará o seu passeio solitário 


eu tenho de voltar

deixei os óculos sobre a mesa

e a televisão ligada

além disso

temo que as flores do meu jardim 

não se renovem.



 

24 comentários:

  1. A melhor alternativa é unidos regarem as flores do jardim.
    A união faz a força e não somente na ideologia política.

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  2. No teu regresso, ao voltar
    estava tudo em seu lugar?

    E já agora
    ao que continuar
    diz-lhe
    que eu o/a quero acompanhar

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    1. Estava tudo como ficou.
      Mensagem impossível, não sei onde pára a personagem.

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  3. VENTANA DE FOTO deixou um novo comentário na mensagem "":

    No hay que olvidarse de esas flores , ellas no tienen culpa y si no se riegan, pueden desaparecer.
    Feliz fin de semana.

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  4. Li este e os últimos poemas e fico tremente de frio...
    Que mensagens geladas, só falam de morte sem qualquer esperança,
    porque ninguém consegue viver com uma revolta do tamanho de um
    bruto icebergue!...
    Largue a televisão e dê belas e vigorosas caminhadas...
    Duvido que regue flores, mas devia...
    Bom fim de semana. Um abraço
    ~~~~~~~~~~

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    1. Tem razão de ser a sua observação. No entanto, a morte, é um tema recorrente na obra de todos os poetas. Já fiz a experiência de ver página a página nos livros de poetas de nomeada quantas vezes aparece a palavra morte e tem vários poemas, alguns até seguidos, em que a palavrinha lá está. A morte ainda é um grande tema. Quanto mais falarmos nela... mais ela se afasta. Rego flores, sim, tenho até plantas dentro de casa. Na televisão vejo o canal MEZZO e a RTP2 à noite, durante o dia nada. Também caminho, confesso que não todos os dias.
      Bom fim de semana.
      Saúde, um abraço.

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  5. Teresa Palmira Hoffbauer19 de julho de 2024 às 22:33

    Se quiser entender a morte, deve primeiro entender a vida.
    Como o poeta entende a VIDA escreve magistralmente sobre a morte ☠️

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  6. a outra dimensão está sempre presente.
    escrevê-la assim de uma forma tão "desempoeirada" é a demonstração plena de que nós, porque latinos, cultivamos exacerbadamente este culto

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  7. Continuam os poemas tristes, a morte sempre presente. Parece que a vida, a alegria, os sonhos ou a esperança de os ver realizados não faz parte da inspiração atual do poeta.
    Abraço e saúde

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  8. Uma divagação interessante, L
    Um olhar minucioso sobre o que vamos perdemos , não me fez lembrar a morte física
    como alguns leitores _ mas o que fica pelos caminhos que andamos, elas palavras que
    E quem de nós nunca fez uma volta solitária?
    Gosto dos seus poemas que fazem barulho ... Um abraço e bom fim de semana

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    1. ... saiu aí uma frase truncada (não liga não) , tenta resumir o que escrevi ,Ok?
      outro abraço para desculpar .

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    2. Totalmente de acordo, este poema não fala de morte.
      Um abraço.

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    3. Luís , (aqui pra nós) _ parece que os leitores vão acompanhando o que o anterior escreveu
      sem se dar conta e ler mais demoradamente- ... enfim, tudo bem , não é ?! risos

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    4. Quando me referi a morte, fi-lo em sentido lato... Não apenas ao ato da matéria viva deixar de o ser, mas também ao fim do que existe que é o caso deste poema que expõe friamente o fim de algo muito intenso...
      Quanto à frequência da morte na nossa literatura, realmente é enorme. Por isso a antiga poesia portuguesa foi uma expressão soturna que as mentes saudáveis evitavam.
      Também acho saudável poetizar sobre a morte ocasionalmente...
      Gostei de saber que aprecia cultivar flores... Sorrisos...
      Tome a 'caminhada' como um exercício regular e verá como beneficia a criatividade...
      Tudo pelo melhor. Um abraço.
      ~~~~~~~~

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    5. Gosto da tertúlia aqui neste espaço, só tenho que agradecer aos meus leitores que proporcionem estes curtos debates que ... até ficam interessantes.
      Um abraço para todos.

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  9. Bom dia Luís,
    Um poema magnífico que me sugere uma perda e o caminhar do Poeta em solidão.
    Um beijinho.
    Emília

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  10. Uma despedida anunciada.
    Um poema onde alguém perde alguém.
    As flores precisam ser regadas.
    O luto precisa ser feito.
    E a vida continua...
    Uma foto em sintonia.
    :)

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    1. As flores estão inocentes, precisam de ser regadas.
      Um abraço.

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