Foto de Daniel Filipe Rodrigues



As velhas aldeias


Ficou pelo ar o canto metálico 

do sino da minha aldeia 

o magro rio murmura um lamento

por entre as pedras e os limos

vejo um fio de fumo 

como se uma casa ao longe 

estivesse pendurada do céu 

uma aeronave rumoreja e risca

o azul no cimo da memorial serra

o chão do vale está todo verde 

sem ínterim divino ou humano

resta viva uma teimosa laranjeira

que resiste ao peso cíclico

dos pontos de cor luminosa


a velha aldeia já não tem ânimo 

para nascer todos os dias 

tudo é silêncio na sua orfandade

as grandes cidades mataram-lhe

o pai e a mãe e os seus filhos

estão a partir


a minha cadeira lá fora

adormece sem ninguém.



 

16 comentários:

  1. No outro dia, meu neto perguntou
    "O que é um aldeão"
    e deixei-o sem resposta

    Amanhã,
    talvez le leia
    teu poema

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  2. Um poema muito, mas muito real do panorama de quem deixa o seu país e a sua aldeia. Estamos na época de virem de férias materem as saudades ,mas muitos não conseguem.
    Recordo o meu berço fechando os olhos e relembrar até as lágrimas cairem.
    A foto é muito bonita!
    Beijos e um bom sábado

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    1. Muito obrigado, um comentário de carácter muito emocional. Gostei.
      Bom fim de semana.
      Um abraço.

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  3. A fotografia não me lembra uma aldeia portuguesa, provavelmente, porque conheço mal as aldeias portuguesas.
    A bela fotografia lembra-me as minhas férias na Bavaria. A típica igreja ⛪️ e até mesmo a cadeira.
    Adiante …
    Um poema lírico que tem a ver com a saudade do povo português.

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    1. O lugar não é Portugal é na Áustria.

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    2. Teresa Palmira HOFfBAUER17 de agosto de 2024 às 17:02

      Quase ninguém sabe hoje que a Baviera e a Áustria já pertenceram juntas.
      No entanto, os paralelos em linguagem, mentalidade, bem como arte e arquitetura estão presentes.
      E emocionalmente, a Áustria geralmente está mais próxima da Baviera do que Berlim.
      Isso também serve como um potencial de ameaça.

      A fotografia — que a identifiquei imediatamente como não sendo uma aldeia portuguesa — não ofuscou o poema.
      Os verdadeiros emigrantes continuam agarrados à sua terra natal.
      O poeta descreve essa problemática com grande sensibilidade.

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    3. Esclarecedor e muito correcto o comentário sobre a Baviera.
      O autor agradeçe a gentileza da classificação.

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  4. As aldeias ficam despovoadas com o êxodo
    para as cidades.
    Todos partem. Ficam os velhos até morrerem.
    E os bancos vão ficando vazios.
    Um abraço
    Olinda

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    1. Com o seu comentário apeteceu-me brincar assim:
      Os bancos das aldeias ficam vazios mas os bancos da cidade estão a abarrotar de dinheiro.
      Um abraço.

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  5. Boa tarde Luís,
    As aldeias já não têm o brilho e a vida de outrora.
    São apenas sombras do passado.
    Belissimo e nostálgico poema, com o qual me identifiquei.
    Beijinhos,
    Emília

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    1. As aldeias estão em estado de coma. Muitas não se vão salvar.
      Um abraço.

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