Foto de Daniel Filipe Rodrigues



Digo um poema


Digo as palavras de um poema

e as palavras que digo são o que respiro

escolho-as para que me cerquem

escolho as que utilizo na partida

e na chegada ao poema


inamovível e temente ao vazio

em que cada uma me possa faltar

faço com elas

um colar vistoso

um lençol quase branco

uns sapatos novos e largos

uma torneira a pingar sede

uma pedra com data escrita

uma carta por abrir

uma chamada dos que faltam

uma resposta credível 

uns olhos de cor desconhecida

um filho ___ um coração a bater


um muro entre a vida e a morte 

com as palavras que me faltam

hei-de escrever amar

ou hei-de escrever chorar 

como se diz numa canção.



 

6 comentários:

  1. Um poema que nos preenche... mesmo que a sensação de vazio perdure....
    Beijos e abraços
    Marta

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  2. Boa tarde
    Um poema que denota a solidão e a luta contra ela, a foto de suporte é o espelho do poema.
    Gostei bastante.
    Boa semana.
    :)

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  3. Teresa Palmira Hoffbauer13 de agosto de 2024 às 19:45

    Poeta na fronteira entre vida e morte.
    Fotografo encaixa bem um passeio tranquilo à primeira vista.

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  4. Os muros são sempre, intencionalmente, uma fronteira.

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