Foto de Daniel Filipe Rodrigues



Cedi em pequenas prestações 
a minha forma de ser
é na diferença de mim
que me encontro
se me virem entre a multidão 
anunciem que morri.




14 comentários:

  1. O poeta levanta uma ponta do véu que esconde a sua personalidade.
    Poetizado com talento.
    Tenha um belo e bom dia.
    Abraço afetuoso.
    ====

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. A literatura estaria limitada se não fosse um misto de realidade e de ficção. Serve também, tal como as outras artes, para questionar e proporcionar a reflexão.
      Obrigado pelo simpático comentário.
      Um abraço.

      Eliminar
  2. Por vezes, temos que fazer cedências...mas o resultado pode ser desastroso... e falo por experiência própria...
    Beijos e abraços
    Marta

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Nem sempre é desastroso se houver partilha. Na mais das vezes, concordo, que é um azar.
      Um abraço.

      Eliminar
  3. O poema reflete uma profunda introspecção e uma busca pela identidade. A expressão "cedi em pequenas prestações" sugere que o poeta se sente como se estivesse a entregar-se aos outros de forma fragmentada, talvez perdendo partes de si mesmo ao longo do tempo. A frase "a minha forma de ser é na diferença de mim que me encontro" indica que a individualidade e a singularidade são essenciais para a autocompreensão. Por fim, a declaração "se me virem entre a multidão anunciem que morri" pode ser interpretada como um desejo de se destacar e ser reconhecido, ou uma sensação de que, na conformidade e na perda da identidade, a verdadeira essência do poeta se apaga. É um poema que evoca sentimentos de solidão e a luta por autenticidade no meio da sociedade.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Uma análise plena de substância e capacidade de descobrir o âmago da, possível, vontade do autor. Regozijo-me com todas as interpretações dos meus leitores.

      Eliminar
  4. A minha filha do meio adora flamingos e a fotografia do primogénito é maravilhosa.

    ResponderEliminar
  5. Um poema escrito quase como uma confissão, na cedência que foi dando mas não na sua concordância.
    O que restou no seu pensamento foram apenas partes da personalidade que adoptou e que talvez não seja a verdadeira.
    Por isso não se reconhece em muitas coisas, então entre a multidão será apenas mais um e não ele.
    Daí a não importância da morte do que dele restou.
    Abraço

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Perfeita análise, o seu texto fala do íntimo do personagem e da constatação da sua derrota, irreversível.
      Um abraço.

      Eliminar
  6. Boa tarde Caro Poeta/Pintor e Fotógrafo
    Este poema, breve e de impacto, evoca o processo gradual e, talvez, imperceptível de perda da identidade. A forma como o sujeito lírico cede "em pequenas prestações" sugere um desvanecer contínuo, quase como se entregasse pedaços de si em troca de aceitação ou adaptação. É um reflexo poderoso da diluição do "eu" no colectivo, algo que muitas vezes ocorre sob as pressões sociais.
    Na segunda linha, "a minha forma de ser" enfatiza uma luta interna para preservar uma essência que já não se sente plena. A ideia de que "é na diferença de mim que me encontro" oferece um paradoxo intrigante: ao perder-se, ele se encontra. Contudo, esse encontro não é uma celebração, mas sim um confronto com uma versão desfigurada de si mesmo.
    O verso "se me virem entre a multidão" transporta-nos para o cenário de dissolução. A multidão aqui é simbólica — representa o conformismo, o anonimato ou até a aceitação da "persona" que o sujeito lírico assumiu, mas que não lhe pertence verdadeiramente. Finalmente, o verso "anunciem que morri" reforça o tom confessional e trágico. Não se trata de uma morte literal, mas sim da morte de uma essência que foi sendo subtraída até desaparecer. É um grito mudo, uma elegia à autenticidade perdida.
    O poema, apesar de curto, apresenta uma densidade emocional intensa, típica de composições confessionais. A simplicidade do vocabulário contribui para a sua força, criando uma proximidade imediata com o leitor. A ausência de rimas ou métricas fixas encaixa-se bem na fluidez reflexiva do texto.
    Este poema funciona como um espelho, convidando o leitor a reflectir sobre o que estamos dispostos a perder para nos adaptarmos ou sermos aceites. A imagem da "morte" final é uma poderosa metáfora para a alienação de si mesmo, um alerta contra a erosão de nossa essência.
    Poucas palavras e muita intensidade, será a minha análise final.
    Continuação de boa tarde e um bom fim-de-semana.
    :)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Brilhante!!! O autor surpreende-se com o detalhe da sua análise e descobre o seu próprio poema. Que interessante.
      Obrigado.
      Um abraço.

      Eliminar
  7. Diante das análises dos comentadores , só me convém aplaudir .
    Está tudo dito... L
    fica o abraço

    ResponderEliminar