Foto do autor do texto



Chego a casa
sento-me no meu cadeirão do costume
acendo duas velas
ponho a tocar um trecho de saxe
meio jazz meio balada
está frio
cubro os joelhos com uma manta
verde padrão tipo escocês 
pego num álbum de fotografias 
que está na mesa ao meu lado
e folheio-o 
Pai muito direito a fumar
Mãe a rir despenteada pelo vento
eu pequeno no campo sobre um burro
as minhas irmãs com chapéus de palha
pequenas e iguais
o nosso gato cinzento a dormir
todos ___ sempre todos
no quintal da nossa casa
depois no terraço da outra casa
ou na praia à sombra dos barcos dos pescadores 
daqueles com um bico apontado para o céu 
nós pequenos
e maiores
e ainda maiores
depois ___ várias folhas sem nada
no fim do álbum 
um pequeno ramo de folhas secas
uma relíquia do casamento dos meus pais
todos chegaram ao fim

a música chegou ao fim
sopro a chama das velas
apago a luz
e adormeço ali mesmo
com o passado ao colo.


 


1 comentário:

  1. Essa tal nostalgia _ guardada em detalhes e solta no poema.
    Gosto disso L , suas reminicências ... quase um lamento .
    'No fim do álbum , ' folhas sem nada.' ... É ssim que sempre termina.( com o passado no colo).
    abraço de boa noite e saúde .

    ResponderEliminar