Foto de Ana Luís Rodrigues



Espero à sombra de uma árvore 
que também espera

digo-lhe
     tudo demora
o sangue e a seiva
correm por dentro
dos braços e dos ramos
     tudo demora
os frutos virão do fundo da terra
sombras e sombras depois

dessa espera virá um primeiro fruto
e depois
um poema que digo em voz alta.


 


13 comentários:

  1. A fotografia leva-me a Portugal, quando eu era menina e moça e escrevia poesia, que lia em voz alta para assustar os passarinhos.

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    1. A foto é um lugar aprazível no Uzbequistão.

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    2. É curioso, que um país que eu imagino pouco aprazível para visitar, me lembre Portugal.

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  2. Tudo leva o seu tempo.
    A sombra está convidativa.
    Um abraço
    Olinda

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  3. E goza-se o tempo... abre-se o livro e deixa-se que as palavras se espalhem pela sombra....
    Beijos e abraços
    Marta

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  4. Assim estou eu e identifiquei-me com as tuas palavras porque a espera é terrível! A foto é muito bonita e já tinhas noutro poema!
    Abraço e um bom dia

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  5. A foto da sua filha Ana Luís, já eu a conhecia - daqui, obviamente - mas, tudo é sempre novo quando o poema é diferente.
    Bom resto de semana!

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    1. Nem tinha dado conta da repetição. Sim, mudando o texto a imagem ganha outro significado.
      Muito Obrigado, igualmente.

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  6. Boa tarde, caro Amigo Poeta/Pintor
    A estrutura do poema é marcada por uma espera contemplativa, quase meditativa. O sujeito lírico não apenas aguarda à sombra da árvore, mas encontra nela um reflexo da própria espera, ambos compartilham um tempo de maturação.
    O verso "tudo demora", repetido em dois momentos-chave, sugere que tanto a natureza quanto a existência humana seguem um ritmo próprio, alheio à impaciência. O sangue e a seiva correm internamente, invisíveis, preparando algo que só mais tarde se tornará visível, seja na forma de frutos ou de palavras. Essa relação entre o crescimento natural e a criação poética reforça a ideia de que a arte, assim como a vida, exige paciência e amadurecimento.
    A progressão do poema conduz o leitor por esse ciclo natural: das sombras à frutificação, da espera silenciosa à manifestação da poesia. Há um movimento de interior para exterior, culminando na libertação do poema, dito em voz alta, como se fosse o último estágio dessa gestação simbólica.
    O Poema tem um tom elíptico e sugestivo. Ele não explica, ele evoca. Convida-nos a sentir a espera, mais do que a compreendê-la de forma linear.
    A foto da filha está em sintonia com o trabalho poético, e é uma boa foto.
    Desejo um bom fim-de-semana
    Um abraço.
    :)

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    1. Como sempre, uma análise detalhada e de quem conhece a arte. Sempre me delicio na leitura destes seus comentários.
      Obrigado.
      Um abraço.

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