Foto de Bartolomeu Rodrigues



Na cidade
todos os prédios são iguais
e há ameaças todos os dias
a cidade é pequena como uma aldeia
todos os homens e mulheres
têm nomes começados pela letra A
que se repetem e repetem 
mas com números tal como
as matrículas de automóveis 
quando eles existiam
na cidade já não há crentes
as igrejas estão vazias e muitas 
foram adaptadas a maternidades
onde os nascituros são registados
com nomes começados pela letra A
mas com números adicionados
tal como as matrículas de automóveis 
quando eles existiam
na cidade 
cada um trabalha e sobrevive 
no prédio onde mora
sem necessidade de se deslocar
por isso não há confusão com os nomes
eles têm o número do edifício 
e do andar onde habitam

um dia chegaram à cidade
pedestres de uma outra cidade
com nomes começados pela letra B
em tudo iguais aos da cidade A
chamavam-se por nomes diferentes 
eram fugitivos 
e encheram as ruas da cidade.


 


14 comentários:

  1. A fotografia é tão fascinante e assustadora como a visão futurista e surreal do poema.

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  2. E perde-se a " identidade"...é-se absorvido, esmagado, esquecido...
    Beijos e abraços
    Marta

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  3. Bom dia
    Para ler e meditar e voltar a ler porque faz muito sentido.

    JR

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  4. La clase A es la más culta y privilegiada y la B es el deshecho de la sociedad, llegaron ilegalmente buscando encontrar una mejor vida y al no encontrar ese futuro prometedor, muchos de ellos se dedicaron a la delicuencia y ocupar ilegalmente las viviendas en que su dueño las tenía vacía temporalmente.
    Feliz domingo de descanso.

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    1. Esta circunstancia no se le ocurrió al autor cuando pensó y escribió este texto. Aún así, si esa fuera la inspiración, no tengo la misma concepción que el querido lector sobre la clasificación cultural de los pueblos, ni aprecio el fenómeno de los migrantes desde esa perspectiva.
      Un abrazo.

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  5. Comentei ontem à noite.
    Terá ido para o Spam?
    Abraço
    Olinda

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    1. O seu comentário de ontem às 21.45 horas, aliás simpático, está na publicação de ontem com a minha respectiva resposta.
      Um abraço.

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    2. Foi um comentário a este poema de hoje.
      Madrugada adentro :)
      Já não consigo reproduzir.:)
      Falei em massificação e lembrou-me "Todos os nomes"
      de Saramago.
      Sorry.
      Um abraço
      Olinda

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    3. Não encontrei o seu comentário, lamento. Esta plataforma Blogger tem algumas insuficiências.
      Conto sempre com a sua visita.
      Um abraço.

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  6. Gostei bastante! Obrigada pela partilha.:))
    .
    O livro continua aberto ...

    Beijos. Votos de um bom Domingo.

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