Foto do autor do texto



Eram assim as manhãs de domingo
acordar com o sol num quadrado amarelo
na parte de cima da janela do meu quarto
o Pinóquio pendurado do tecto
sossegado ainda a dormir
os risos das crianças dos vizinhos
no pátio de trás 
a farinha a fumegar com um desenho a canela
que a minha mãe fazia diferente todos os dias
as voltas turísticas ao quintal no meu triciclo azul
com o chapéu de “cóboi” mas de palha

a voz do meu pai a mandar-me comprar gelo
na fábrica ao fim da rua para o almoço melhorado
a tarde dourada 
na marquise com a minha mãe a ler uma história 
para evitar o meu atletismo no corredor
a noite de luz mortiça
o jantar na cozinha com o romance radiofónico
da Emissora Nacional às vezes com lágrimas 
e depois não me lembro de mais nada
adormecia com o meu gato

hoje é domingo de manhã e compreendo
que já não haja aqui ninguém neste exílio. 


 


2 comentários:

  1. Ficam memórias felizes, a descoberta do tempo e as brincadeiras loucas na varanda, a corrida alucinante nas escadas...e a promessa de um lanche recheado de coisas boas...
    Beijos e abraços
    Marta

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Há momentos que nunca se apagam ou até os imaginamos mais coloridos.
      Um abraço.

      Eliminar