Foto de Daniel Filipe Rodrigues


Quando eu era rapaz no tempo
da inconsciência e dos cabelos revoltos
gostava de me sentar à beira do rio
que passava lá em baixo ao pé da nossa casa 
com os pés dentro de água lançava 
miolos de pão acreditando que os peixes
os viriam buscar ___ e vinham
ouvia lá em cima os risos das minhas irmãs 
com o latido do Faísca brincando
e pensava
que bom era ser Verão e estar de férias 

hoje passei nesse lugar para me devolver
aos sons e aos sentidos 
da minha infância harmoniosa
o rio ocupado e imperfeito já não é o mesmo
homens dentro dele tentam caçar os peixes
sem lhes darem miolos de pão pacificamente 
multidões banham-se aos gritos
impondo às águas os seus corpos dementes
já não ouço as vozes das minhas irmãs 
e o Faísca desapareceu há muitos anos
ou o levaram
ou ele partiu desencantado com as rotinas

regresso e faço caminho pela casa abandonada
entro no meu carro e faço o poema
depois parto para o fim do Verão 
para o fim do Outono
para o fim do Inverno
para o fim da Primavera. 


 


22 comentários:

  1. En tus letras he podido sentir tu melancolía y también tu emoción al encontrarte nuevamente en aquel paraíso que disfrutaste en tus años primeros y que hoy ya no es el mismo que ayer fue.
    Pude percibir tu nostalgia por aquella infancia feliz, llena de risas compartidas con tus hermanas, esas sanas travesuras que envolvieron tu niñez y el disfrute junto a “spark” tu gran amigo.
    Todo quedó atrás, hoy tus recuerdos son las reliquias de un pasado que ya no ha de volver … luego tu texto me hace estallar el pensamiento y me pregunto si quizás ese mismo río al verte hoy, tampoco te pudo reconocer.
    Pero luego de leerte y releerte me respondo… ¡Claro que sí, ese río te reconoció! … pues tus renglones están cargados de esa nobleza de espíritu que desde niño tuviste y que jamás has de perder, por ello escribes como lo haces… con el corazón en la mano, con transparencia, disfrutándolo y transmitiendo tu sentir hasta hacer que tus lectores (como yo) vuelen con la imaginación y se ubiquen con la cabeza y el corazón en ese tiempo-espacio que tu talento, creatividad y sentimiento supo elegir.
    Autor… ¡Gracias por tan bella lectura!

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    1. Mi amable Juan Carlos, me conmovió mucho tu hermoso comentario. Todo lo que me escribiste me hizo sentir mucha nostalgia, tu texto también es un poema. Aprecio la referencia a la posibilidad de que el río me haya reconocido, los solitarios anhelan escuchar una palabra de reconocimiento.
      Agradezco este primer comentario tuyo y cuento contigo como un estimado lector que, al fin y al cabo, justifica mi trabajo en búsqueda de la belleza.
      Un cálido abrazo.

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  2. Memórias de um paraíso simples e feliz...tudo muda, apenas voamos nessas memórias, nas sensações..
    Pode ser o fim de tudo, de uma era, mas inesquecível, pois vive no passado de alguém....
    Beijos e abraços
    Marta

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    1. O passado é onde nos deitamos cansados de viver tanto.
      Um abraço.

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  3. Encantei-me com esse seu poema.
    Alías, encanto-me sempre. Senti
    o passar do tempo, a simplicidade
    das coisas simples. Um paraíso
    perdido.
    Abraço
    Olinda

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    1. O que se passou de belo na nossa vida só mais tarde apreciamos devidamente e a saudade leva-nos aos lugares onde a beleza mora. Nem sempre é possível ou, a beleza já não mora lá.
      Um abraço.

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  4. memórias que ficam.
    tudo mudou.
    nós mudamos.
    abraço

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  5. Este seu poema transportou-me ao meu passado, numa viagem paralela à sua, que os campos eram outros e outras eram as águas, a irmã e a cadela a que aminha mãe deu o nome de Paloma... quando retorno, tento pousar sempre no recomeço de uma estação. De preferência, a Primavera.

    Um forte abraço, L.

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    1. Afinal, memórias comuns a muitos de nós que, noutros tempos, eram parecidas.
      Um abraço.

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  6. Depois de ler estas tuas memórias eu viagei até á Lagoa do Panguila da minha terra vermelha onde fazia o mesmo com o meu grupo. Hoje pela certa já não deve existir!
    Beijos e um bom dia

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    1. Aqui ou lá longe, nós meninos, divertiamo-nos com as mesmas brincadeiras.
      Um abraço.

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  7. Leio uma profunda nostalgia pela infância, pelos momentos de paz e simplicidade à beira do rio, e também uma reflexão sobre as mudanças que o tempo traz para os lugares e as pessoas que amamos.

    A minha querida Alemanha, tão exuberante e verdejante, como a natureza que a fotografia revela com tanta beleza e poesia

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    1. Caro Poeta/Pintor
      Um poema que respira saudade e nos conduz com delicadeza pela ponte entre a infância e o tempo presente.
      A memória aqui não é apenas lembrança, mas lugar de reencontro e de perda, onde até o rio parece ter mudado de alma.
      A última estrofe, com o desfilar das estações rumo ao fim, ecoa um silêncio agridoce, como quem parte levando o mundo de dentro.
      Um texto tocante na sua simplicidade madura.
      Deixo um abraço.
      :)

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  9. Devo andar sensível pois este seu poema deu-me vontade de chorar...

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    1. As suas lágrimas tornam fértil o meu escrito.
      Muito Obrigado.
      Um abraço.

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  10. Tofos passamos por momentos saudosistas...
    As memórias da infância raramente se apagam.
    Perpassa pela poesia grande deceção melancólica que nos últimos versos soa como um alheamento pela vida.
    Um abraço.
    ====

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  11. Boa tarde Luís,
    As memórias de infância em que me revejo e comovo-me.
    Nada é como dantes. Os rios, sem peixes, as pessoas que amei, já não estão.
    Um grande vazio e nostalgia envolvem-me. Apenas ouço o silêncio.
    Beijinhos,
    Emília

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