IA



Uma casa 
com dia de um lado e noite do outro lado

o medo de no meu corpo
ser dia e noite ao mesmo tempo

um choro de criança do outro lado da luz
ou da sombra
e a dúvida no socorro

o gato que foge do dia para a noite
e da noite para o dia
o miado ao longe

um bater de asas animal 
pombo ou morcego
não há vestígio de penas

passos de mulher que sai do dia
ou entra na noite
ficou o perfume

uma grande nuvem que suspende o dia
ou se perde na noite

há-de haver um lugar 
talvez numa parte do mundo não descoberta
em que todas as coisas recomeçam 
em que no fim do dia recomeça a noite
e a seguir recomeça o dia
numa sucessão natural
que vem do início dos tempos

alguém dentro de mim ou eu próprio pergunta
por que tem de haver noite
a toldar a inocência dos pobres? 
nada sei sobre a certeza ___ a razão 
sei apenas que virá o dia da agonia
e que tudo acabará do lado da noite. 

 


 

12 comentários:

  1. A eterna questão... quem ou o que marca o fim ou o recomeço de tudo? Tanto o dia como a noite têm os seus próprios segredos e nem todos os desvendam....
    Beijos e abraços
    Marta

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  2. A dualidade entre dia e noite, luz e sombra, esperança e medo dá a sensação de que o poeta está dividido entre esses dois mundos, à procura por um lugar onde tudo recomeça, e a dúvida sobre o significado da noite na sua inocência.

    Geralmente as imagens criadas pela IA são muito acastanhadas.
    Desta vez é uma imagem que me agrada.

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  3. Boa tarde Caro Poeta/Pintor
    Este poema é um passeio inquieto entre luz e sombra, onde o tempo se dobra e os sentidos se confundem.
    O autor constrói uma casa dividida entre o dia e a noite, metáfora delicada e perturbadora da dualidade humana, e convida-nos a atravessar os seus corredores feitos de medo, dúvida e mistério.
    Os gestos mínimos ,o miado de um gato, o bater de asas, um perfume esquecido ganham um peso quase existencial.
    Há aqui uma escrita que se desvia do caminho habitual, mas prende com a beleza do estranho e a ternura do desconcerto.
    No fim, fica a pergunta incómoda: o que fazemos nós com as noites que toldam a inocência?
    A imagem ficou muito bem.
    Deixo um abraço.
    Boa semana com saúde e inspiração.
    :)

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    1. Sempre interessantes e esclarecedores estes seus comentários. O autor acaba por entender melhor o resultado da sua escrita.
      Muito Obrigado.
      Um abraço.

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  4. Tentei, tentei, tentei e consegui te seguir. Obrigada, viu!

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    1. Fico contente e agradeço. É bom contar com mais uma leitora.
      Um abraço.

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  5. La noche parece eterna si se padece de insomnio.
    Un abrazo.

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  6. E a noite sempre vem e que tarda a agonia, L
    Gosto do poema que traz mais luz que sombra e é nessa luz que venho te ler , te sentir nos poemas.
    Meu abraço, L e achei linda a foto do filho sobre o tem ' sempre um momento e felicidade) Si, é mesmo!
    ( andei passeando por aqui ...) beijinhos

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    1. Saúdo sempre a sua vinda. Os meus leitores/as são a justificação para continuar aqui a publicar.
      Um abraço.

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