Foto de Daniel Filipe Rodrigues


O tempo teimoso
insiste em ir além da minha vontade 
mesmo quando tomo a tua mão 
e o tempo pára para nós 
ele continua célere no meu sangue
e grita silenciosamente
batendo nos muros
do meu coração 
dos meus pulmões 
do meu cérebro inconstante

os deuses que ignoramos
conduzem o tempo
mãos anónimas dão de comer
à nossa vontade
ao desejo assim chamado
pelos que fecundaram
inventores de céus e montanhas
de mares e buracos negros
aqueles que são eternos
e nos obrigam ao tempo teimoso

o tempo desce a escada
ouço-lhe os passos ___ é tarde
termino o poema.


 


7 comentários:

  1. O tempo! Essa invenção nossa, não fossem as nossas cãs.
    E os deuses andam a reboque dessa entidade que tudo
    quer, tudo exige.
    Um abraço
    Olinda

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  2. O poema personifica o tempo como obstinado e poderoso, contrapondo desejo humano à passagem implacável do tempo. há tensão entre presença corporal — mãos, sangue, batimento — e impotência diante da sua continuidade. divindades e “inventores de céus” representam forças cósmicas que moldam o tempo, enquanto o eu lírico luta para encontrar controle ou sentido, encerrando com a desistência de término tardio. O tom é melancólico e meditativo, com imagens sensoriais fortes e uma conclusão que sugere a inexorabilidade do tempo.

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    Respostas
    1. Como um lamento escrevo sobre a persistência do tempo... que não desiste de nos consumir.

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    2. A persistência do tempo… persistente a devorar o poeta.
      Uma sensibilidade que beira o extremo.

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  3. O tempo pode ser implacável... não dá tréguas....fica apenas o poema....
    Beijos e abraços
    Marta

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