Fracção de imagem do cartaz promocional do filme O Deserto Vermelho de Antonioni


A realidade tem qualquer coisa de inquietante
mas não sei o que é 

perdido num cais entre o labirinto estreito dos contentores

um monte de livros esventrados e mortos

a tua ida com uma mala e a dizeres que voltas

uma criança sozinha numa varanda com uma cadeira

ter de atravessar uma nuvem amarela de veneno

andar à procura de moradas que já não existem

sons estranhos saídos de tubagens industriais

uma nuvem de pó dos elefantes caminhando para cá 

a realidade tem qualquer coisa de inquietante
mas não sei o que é. 




Inspirado em alguns elementos do filme ”O Deserto Vermelho” de Antonioni. 




6 comentários:

  1. Há uma premonição boa ou má que não se revela totalmente, mas que somos incapazes de explicar....como se estivesse escrita na pele...E, depois... simplesmente explode e nada nos prepara para isso...
    Beijos e abraços
    Marta

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    1. A realidade tem qualquer coisa de inquietante mas não sei o que é.
      Um abraço

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  2. Bom dia
    Tudo o que diz no problema nos atinge como flechas~
    disparadas sem aviso. Desolador e inquietante, mas
    quando acontece, e é com frequência, perdemos uma
    boa parte da nossa humanidade.
    Um abraço
    Olinda

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  3. O poema evoca uma sensação de inquietação existencial através de imagens oníricas e urbanas, onde a realidade se revela fragmentada e ambígua. A presença de elementos como o cais, os contentores, livros esventrados, uma criança solitária, e uma nuvem de veneno sugere uma atmosfera de desolação e perda, refletindo uma condição de alienação e incerteza. A referência ao filme "O Deserto Vermelho" de Antonioni reforça essa atmosfera de vazio e busca por sentido num mundo desumanizado. Em suma, o poema explora a complexidade da experiência humana diante de uma realidade que, embora familiar, permanece profundamente inquietante e enigmática.

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    1. Fiquei com uma sensação confortável depois de ler o seu esclarecido comentário. É encantador para um autor ver a atenção que a leitora dedicou ao escrito até elaborar a sua análise tão certeira.
      É meu dever agradecer.

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