Foto de Daniel Filipe Rodrigues
Vivemos em países diferentescom um mapa sem contornos fixosmutáveis ao sabor de quem conquistatoda a superfície é áridasem lagossem saída para o marvive cada um no seu país inventadosem direito a um céu permanenteporque também ele mutávelsem solsem chuvasem noitesem diavivemos num país de razões inexistentesobra de criadores obscurossem exaltação a vida não é possível
largo fogo ao mapa
e fico curioso de saber
onde fica o fim do mundo.
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Liberto Cruz
1935 - 2025
Foto CNN


O tema central é a ideia de um mundo descoincidente, sem fronteiras estáveis, sugerindo identidades e países que não são fixos, moldados pelas conquistas e pelas poderosas dinâmicas políticas. O mapa é metafórico, um território em constante mutação. O terreno é árido, sem lagos nem saída para o mar, simbolizando uma condição de confinamento e desamparo. O céu não é estável, assim como a identidade, sugerindo uma condição humana vulnerável frente às mudanças políticas. O poema oscila entre o surreal e o político para questionar a normalidade. O sistema carece de fundamentos éticos e racionais claros. A imagem de queimar o mapa simboliza abandonar as fronteiras impostas e buscar outra forma de convivência.
ResponderEliminarA pergunta final é fundamental: “onde fica o fim do mundo” funciona como uma provocação — não é apenas geográfico, mas metafórico: onde termina a ordem estabelecida? Qual é o limite da criação humana quando se desmantela a ideia de um mundo fixo?
Em síntese, o poema é uma crítica contundente às fronteiras artificiais e às verdades políticas que moldam a existência individual, convidando a leitora a imaginar um mundo além dos mapas que nos foram impostos.
Brilhante a sua análise. A síntese é muito interessante e eu próprio, como autor, fico à descoberta do que escrevi.
EliminarMundo imaginário ou nem por isso...
ResponderEliminarSugere uma quase prisão controlada
por mãos poderosas que interfere até
com os sentimentos, a ponto de se
perder a noção da sua finitude.
Poema profundo.
Abraço
Olinda
Liberto Cruz, homem de cultura cuja perda
Eliminarmuito lamentamos.
Abraço.
Somos um grão de areia neste universo.
EliminarLiberto Cruz merece a nossa homenagem.
Um abraço.