Foto do autor do texto tomada do documentário VIDA SELVAGEM



Eu sou o poeta ___ diz o poeta

o público aplaude o poeta 
ainda antes da poesia
o público tem na mão o livro 
que o poeta inventou 
e que o público ainda não leu
o público aplaude afinal
o prestígio do homem
que se apresentou como poeta

o poeta diz que vai ler um poema
e lê 

Sou um poeta
um promotor de lágrimas sem remuneração 
um homem feliz quando está triste
porque isso é a maternidade da poesia
o poeta nasce e morre nos seus poemas
é uma borboleta que sai do casulo
para a sua vida breve
é um animal que se dessedenta
atento aos predadores
é um macaco sozinho excluído do bando
o poeta é dispensável. 

o poeta despede-se ___ boa noite
o público aplaude com emoção 
o poeta espera a saída do público 
e depois também ele sai
para se ir dessedentar ao bar mais próximo 
atento aos predadores
como um macaco solitário. 


 


12 comentários:

  1. Acabamos todos por ser solitários... e escondemos-nos em bares ou noutros locais para esquecer....O quê? Às vezes, nem temos a certeza...
    Beijos e abraços
    Marta

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  2. Curioso este diálogo entre a persona pública e a persona privada, também o vivo muitas vezes, embora noutros formatos. Um abraço

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  3. São raros os humanos que não tenham essa postura dentro do seu casulo e fora dele! Gostei muito!
    Beijos e um bom dia!

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  4. Para muitos, também, o poeta é um nefelibata.
    Abraço de amizade.
    Juvenal Nunes

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  5. A verdade é que gostei muito deste poema que me poderia ter despertado novas dúvidas sobre a utilidade do trabalho dos poetas se eu não estivesse já muitíssimo segura de que a poesia é tão útil quanto o são o amor, o riso, o choro, a música e a própria resistência. Entre nós, humanos primatas, só um ofício é incontestavelmente inútil e invariavelmente criminoso: o ofício de ser estupidamente rico.

    Um abraço, L.

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    1. Muito bem, gostei da sua conclusão. Mas há muitos a quererem ser ricos... estupidamente.
      Um abraço.

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    2. A Poesia não dispensável.
      Ela preenche um espaço na vida que só muito
      raramente deixamos exposto.
      O trabalho do poeta, por vezes, é solitário, sim...
      Um abraço
      Olinda

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    3. Continuamos a acreditar na necessidade da arte.
      Um abraço.

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