O meu avô 


Quando os canos lá de casa fazem barulho a engolir

o avô manda-nos ver o que se passa com os perus 

que julga ter no quintal já lá vão mais de dez anos. 


Só sossega quando revive o passado de motorista

sentado na scooter mini. Dizemos e apontamos:

-Esteja atento aos clientes que pedem o seu serviço!


Insultou o neto, o mais pequeno, por se ter atravessado

de triciclo à sua frente numa lenta correria

o avô logo irritado tomou-o por um louco motoqueiro. 


Pediu para ser abastecido de gasolina, mas Super!

Teve de ser no quintal com a mangueira da rega

mas vazada para o seu bolso porque meteu na cabeça 

que lhe roubavam combustível e tinha de o guardar bem. 


Só à mesa está capaz, come e bebe em silêncio 

mas de vez em quando assusta-se 

quando vê dentro do copo os seus dentes a sorrir. 


Quando estaciona o "táxi" e são horas de deitar

pega nas canadianas como se fossem "andas" 

numa festa popular que temos de acompanhar

batendo tachos e panelas como se fossem bombos. 


Digam-me lá meus amigos se não é tão animado

ter um avô assim, sempre sempre tão mimado.




17 comentários:

  1. É bom ter um avô que mima e ralha se preciso for,
    mas esse avô já mimou e agora é ele que precisa de cuidados.

    O desenho minimalista de hoje, diz-nos em poucos traços,
    que o mundo dos Homens é o seu Lar. Cada vez mais.


    Boa Noite!

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    1. Obrigado por ter vindo. O mundo é o lar, mas cada vez em pior estado, talvez a precisar de obras de fundo.
      Uma noite descansada.

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  2. Bonita viagem ao passado com recordação de quem mais amamos

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  3. Céus!!
    O poema obrigou-me a recordar os meus avôs.
    Tanto o avô paterno como o avô materno morreram cedo e ainda com dentes.
    Os homens da minha família são o sexo fraco. Morrem cedo. O meu pai com apenas 27 anos.
    As mulheres fortes e eternas.

    Gostei do desenho geométrico.

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    1. De vez em quando vamos ao nosso arquivo de recordações.
      Obrigado pela sua vinda.
      Bom Dia.

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  4. Avô
    Já sou
    e
    os canos cá de casa também fazem barulho a engolir
    mas não tenho quintal
    nem, assim, posso imaginar
    perus ouvir
    A placa, mesmo com Corega
    por vezes também me sorri
    Contudo
    Não tenho scooter mini
    Nem canadianas
    só tenho os tachos e uma panela

    Também, não posso ter tudo!...

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    1. Muito engraçado o seu comentário. Até agora o único que deu a entender a comicidade do texto. Muito Obrigado pela sua indispensável visita.
      Abraço

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  5. Vou esquecer que os textos poéticos podem ter vida própria e lembrar que poucos ou nenhuns casos presenciei de uma senilidade assim, feliz...

    Nenhum, mesmo. Em todos os casos de demência senil que acompanhei, as pessoas viviam em permanente conflito com os fantasmas dos seus medos. Ressuscitavam-nos ou engendravam-nos a partir de tudo e nada. Não foram tempos fáceis para eles, nem para mim.

    O desenho, a lápis de aguarela, segundo me parece, ou a lápis de grafite com uma copa/nuvem em aguarela, fez-me recuar no tempo uns 16 ou 17 anos; dei comigo numa carteira do instituto no qual decorreu o meu último cursozinho. E esses, sim, foram belos tempos.

    Foi lá que me nasceu a metáfora da Barca... o que eu aprendi!

    Hoje, li por três vezes o seu poema... e também ele me fez viajar, como penso que terá entendido.

    Abraço, L.

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    1. Profundo e terno o seu comentário. É compensador quando as visitas deixam os seus textos que revelam a atenção que dedicaram à leitura.
      Muito Obrigado.
      Até logo.

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  6. Muita vida ao longo dum poema tão real, tão visual, de risos que se sobrepõem ao sentir pena do então, e à saudade.
    :)

    (o meu novo logótipo é uma preparação para o Dia das Bruxas)

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    1. Obrigado pelo seu comentário compreensivo quanto à saudade.
      Logótipo novo, parabéns.
      Até logo.

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  7. Este comentário foi removido pelo autor.

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  8. Os avós e os netos e as histórias em família... bonito !

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  9. Caro Poeta

    não sei bem se será bom ter um avo assim, divertido sim, mas senil não!
    eu era pequenina e apenas recordo que o meu avô era gordo e muito rabugento
    nao se enquadra no seu poema

    ;)

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