Perdi não sei bem o quê entre os meus 19 e 20 anos

e não mais parei de procurar


Cola-se a nós a ilusão 

que sabemos para onde ir

e tudo em nós se comanda

com a vibração da volúpia. 

Tudo são certezas

que provêm dos equívocos, 

tudo parece a resposta fácil 

da natureza e do corpo

e não há choros nem pânicos. 


E num dia já tarde

com um livro aberto 

sobre os joelhos

encontramos o silêncio 

que nos ficou na boca, 

entreaberta boca

que devorou o tempo todo. 

Esse é o momento da revolta 

e da certeza do que perdemos.




22 comentários:

  1. Este é um poema diferente. Li, entendi e compreendi a revolta.
    Melhor do que sofrer pelo que não se disse, é tentar expressar agora o silêncio contido, em palavras escritas.
    Solte-se, não lhe faltam espaços onde possa recuperar o tempo perdido.

    Gostei da aguarela e dessa macieira grande, cheia de saborosos frutos vermelhos, mas não silvestres.

    Boa Noite!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Um agradecimento pelo comentário compreensivo e pelo conselho.
      Obrigado pela interpretação da aguarela.
      Uma Boa Noite.

      Eliminar
  2. Ah... hoje tenho a certeza de que não me enganei na porta, ali está uma aguarela com a sua assinatura! 😊
    Curiosamente nela estão congregadas as quatro cores que utilizou na série de publicações que antecedem esta: o azul, o branco, o vermelho e o preto.
    Depois de ler o poema, veio-me à memória uma frase batida: «Ai se eu tivesse vinte anos e soubesse o que sei hoje...»

    Beijinhos pródigos
    (^^)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Bem observada a aguarela. É uma verdade esse desabafo que todos já tivemos sobre os nossos vinte anos. O tempo não volta atrás.
      Obrigado pela vinda.
      Um abraço

      Eliminar
  3. "ilusão", "volúpia"
    "equívocos", "choros",
    "pânicos", "silêncio"
    "revolta", "perda"

    Porra! Sai dessa...

    Dizes ter perdido não sabes bem o quê entre os teus 19 e 20 anos e não mais paraste de procurar.
    Mas... bem podes parar. Ninguém precisa
    de regressar à idade da utopia

    ResponderEliminar
  4. Eu sei muito bem o que perdi entre os meus 19 e 20 anos.
    Uma aguarela com as quatro cores: o azul, o branco, o vermelho e o preto.
    É um prazer ler o poema e observar a aguarela, num momento, em que estou quase a perder a razão.


    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Muito original a parte final do seu comentário. Algo preocupante.

      Eliminar
    2. Quando ler a minha resposta ao seu comentário, compreende o motivo da minha amargura.

      Eliminar
  5. Tanta negritude na mesma produção poética.
    É como já escrevi hoje. São recursos fáceis na escrita. Resultam bem por vezes. Esta foi uma delas.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Deixamos que a mão diga o que a cabeça pensa.
      Obrigado pela sua vinda.

      Eliminar
  6. Perdoe-me, mas vou mesmo ter de citá-lo, L. ; "Deixamos que a mão diga o que a cabeça pensa". É exactamente isso, tanto na poesia quanto na expressão plástica.

    E, retomando um velho arquétipo, melhor ainda se cabeça, coração e mão confluem num súbito impulso criativo.

    Forte abraço.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Céus!!!
      Se eu deixasse que a minha mão disesse o que a minha cabeça pensa!!!

      Deixo que a mão do poeta e a mão da Maria João digam o que a vossa cabeça pensa, mas cuidado com demasiado coração.

      Eliminar
    2. Maria João, completou o meu pensamento. Obrigado.

      Eliminar
    3. Ematejoca, dizemos mas sabendo evitar as inconveniências.
      Por mim registo o conselho.

      Eliminar
    4. NUNCA dou nem recebo conselhos!!!

      Estou agarrada à CNN desde os ǘltimos dias, portanto, não se admire com a minha agressividade.

      Eliminar
    5. Muito bem, também tenho passado por aí para ver como a "coisa" vai.
      Não achei agressividade.

      Eliminar
  7. É uma idade linda onde se perde e ganha muito do futuro da vida.
    .
    Deixando um abraço

    ResponderEliminar
  8. Caro Poeta
    nessa idade perdemos sempre muita coisa
    mas com o tempo ganhamos outras
    cada tempo tem beleza
    e com o passar do tempo por vezes a beleza acentua-se
    basta sabermos olhar

    gostei bastante

    beijinhos
    :)

    ResponderEliminar