Fracção de uma escultura de Eduardo Chillida. Foto do autor do texto. 




No outono os prados do tempo 


Em cada móvel que afasto da parede 

tenho um prado de bolor a florescer 

é o tempo teimoso

a cobrir os nossos haveres

a cobrir as nossas memórias. 


Ocorre-me então folhear a vida

e ficar a ouvir o som das folhas a virarem 

onde encontro os meus dedos infantis

em alguns dos momentos abandonados. 


Foi tudo tão rápido 

desde o primeiro ao último sorriso

que deixámos nas imagens. 

Sinto frio no meu olhar

agasalho as minhas velhas ideias

para queimar esta frialdade 

do bolor a florescer. 




 

23 comentários:

  1. O bolor das paredes lava-se com água tépida, detergente e lexívia...

    Tivesse eu a receita para lhe irradicar da alma essa apatia, húmida e bafienta, e dar-lha-ia de boa vontade.
    Mas não, não tenho. É na leitura que lavo a alma.
    Já começou a ler o "Amor em Tempos de Cólera"? Leia, que vai fazer-lhe bem.
    Tem passagens hilariantes que o vão fazer sorrir.
    Boa noite, Luís.
    Um abraço.

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    1. Nunca se esqueça que os meus textos tanto podem ser realidade como ficção.
      Ainda não comecei a ler o livro que refere, está na fila, por agora tenho outros mais urgentes. Agradeço o cuidado e a visita.
      Boa Noite. Um abraço.

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    2. Certo!! Porém, o encanto que encontro ao ler um texto, é encarar o que leio como se fosse verdadeiro ou, pelo menos, houvesse nele algo de autêntico...só assim me desperta algum tipo de emoção.
      Não diz que o objectivo que persegue é despertar naqueles que o lêem algum tipo de sentimento?
      Pois este seu texto despertou em mim um sentimento solidário...

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    3. Tomei os seus conselhos como se fossem a sério, percebo agora que também entram na ficção. Fico reconhecido na mesma com a sua solidariedade.

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    4. Já sei...já sei...o bolor a que se refere deve ser das esculturas de Chillida...

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  2. Nunca fui uma admiradora da obra do escultor basco, todavia, o detalhe que a fotografia mostra é admirável.
    Todas as noites, ultimamente, todas as manhãs — deslizo com verdadeiro interesse pelo fio condutor das suas recordações.
    Uma narrativa ácida e intensa.

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    1. O seu comentário é estimulante. Para quem publica é muito agradável saber que há leitores interessados, pessoas que não ficam indiferentes, espero conseguir manter vivo esse interesse.

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  3. O tempo passa e às vezes enche de bolor as paredes e os ossos. Depois "como pode não arder um fogo que se atiça a sonhos velhos"?
    Gostei muito do poema.
    Uma boa semana com muita saúde.
    Um beijo.

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    1. É compensador perceber que as palavras e os sentidos que elas exprimem não são existentes apenas no íntimo do autor do texto.
      Obrigado. Boa semana. Saúde.
      Um abraço.

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  4. Li o poema no começo do dia antes de me deitar, reli-o agora. É um poema muito bonito sobre o passar do tempo e apesar de alguma nostalgia, tem imagens muito belas como esta.
    "Ocorre-me então folhear a vida
    e ficar a ouvir o som das folhas a virarem"

    Abraço, saúde e uma boa semana

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    1. É com apreço que espero os seus comentários sempre tão simpáticos, tomo em conta as suas palavras.
      Obrigado
      Um abraço. Muita saúde.

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  5. Foto divina. Poema muito bonito. A conjugação poética perfeita.
    .
    Pensamentos e Devaneios Poéticos

    Cumprimentos poéticos

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    1. Agradeço-lhe a sua primeira visita e as suas simpáticas palavras.

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  7. El otoño, es una bella estación. En mi país estamos en pleno invierno y con temperaturas bastante frías.

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    1. Aquí en Portugal también hace mucho frío. Gracias por venir aquí, se ha notado su ausencia.

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  8. Vim dizer-lhe que também "É com gosto que visito o seu blog".
    E acrescento, agora, que gostei muito do poema e da imagem.
    Nunca me ocorreu folhear a vida. Huum, não seria tarefa fácil face ao número de páginas... Talvez devesse!
    Beijo, proteja-se do vírus e do frio.

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    1. É com gosto que recebo as suas palavras. Folheamos a vida mas há páginas em que não nos detemos.
      Estou à defesa com o vírus.
      Um abraço. Obrigado.

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  9. O tempo passa e vai deixando as suas marcas.
    Mas, não se dê por vencido.
    Tudo envelhece e nós também.
    Ninguem será eternamente jovem.
    A nostalgia aqui expressa ao cair da juventude.
    beijinhos
    :)

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