Foto de Ana Luís Rodrigues




Agora, a tua mão 


Gastei a paisagem de tanto olhar, 

moem-se-me os olhos 

a querer ver o que não existe, 

depois é uma agitação nas palavras 

para ninguém, uma mágoa 

na partida das andorinhas, 

na desfolhada das árvores, 

nos dias escuros. 

Fico silencioso 

a acompanhar a vida de um pardal 

em cima de um muro 

até ele partir também. 

Moem-se-me os olhos 

a querer ver o que não existe. 

Não é fácil largar agora a tua mão.

 


Foto do autor do texto





17 comentários:

  1. O contacto humano como garante da felicidade em vez da tristeza

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  2. O toque que atualmente tanta falta nos faz
    Cumprimentos

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  3. Bom dia!
    Eis um texto que me tocou profundamente e de forma muito especial.
    Todo ele está impregnado da dor da partida, do medo de enfrentar a solidão quando mais se precisa de companhia.

    Alguma relação a primeira foto terá a ver com as palavras, embora toda a minha atenção fique presa nelas e na foto seguinte.
    Hoje não consigo escrever mais nada...

    Vou deixar algo que nunca deixei antes, não por pensar que o autor precise, mas porque preciso eu.
    O meu abraço.

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    1. O objectivo foi cumprido, no seu caso, tocar a sensibilidade de quem lê.
      Agradeço a compreensão e solidariedade.
      Um abraço também.

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  4. Um pedido pertinente que expressa extrema solidão — embora solidão não significa não ter companhia — podemos sentir-nos sós no meio de uma multidão.

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  5. As mãos enlaçadas como garantia de suporte e ternura...

    Na falta de mãos reais, reinvento-as a todo o instante... mas não basta. É apenas um mecanismo de substituição que temporariamente vai funcionando.

    Forte abraço, L.

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  6. Uma árvore solitária e seca, frente ao imenso mar e a floresta do outro lado. A solidão dos idosos, imensa como o mar, perante a indiferença do resto dos humanos simbolizados pelas arvores do outro lado. Uma foto que conta a história de muita gente.
    O tema repete-se no poema. "A mágoa na partida das andorinhas" a mágoa pelos amigos e familiares que vamos perdendo ao longo dos anos, "nas desfolhadas das árvores, nos dias escuros", o avançar da idade, o inverno da vida, o sentimento de que ele próprio está cada vez mais perto da partida e o não querer ser como o pardal solitário nessa hora, agarrando-se à mão que esteve sempre a seu lado como o náufrago à tábua de salvação. Emocionante para todos nós a quem os anos cobriram de neve os cabelos. Porque no fundo todos, ou quase todos estamos no mesmo barco, partilhamos o mesmo sentimento, só não temos a poesia na alma que faz o poeta escrever assim.
    Abraço e saúde

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    1. Gostei muito do seu comentário, a interpretação pormenorizada do texto faz com que o que ficou escrito seja mais validado. Agradeço o tempo que dedicou à análise com a, qual concordo.
      Saúde, um abraço.

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  7. Dziękuję za komentarz. Tłumaczenie Google.

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  8. Estou a ter dificuldade em comentar esta sua publicação, pela emoção que me faz sentir.
    Não é fácil largar a mão de quem tanto amamos, mas acredite, que largar é melhor, que agarrar porque precisa.

    Um abraço !

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    1. Sinto-me compensado como autor do texto, tocar a sensibilidade de quem lê falando de situações com que os leitores se identificam é o objectivo.
      Obrigado, um abraço.

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  9. Caro amigo

    um poema que me sensibilizou bastante.
    concordo quando escreve " não é fácil largar a tua mão"
    pois não, não é nada fácil..

    boa semana

    :(

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