Foto de Ana Duarte



No declínio 


Espanto-me como ainda estou vivo. 

Folheio a minha lista telefónica ___

    ___ risco os que já morreram 

    ___ risco os que raramente me procuram 

           ficando à minha espera 

    ___ risco os que ainda não tendo morrido 

           já se esqueceram de mim 

           ou já não me reconhecem

somos o nosso próprio silêncio. 

 

Espanto-me como ainda estou vivo. 

Reconcilio-me com a vida 

e deslumbro-me com os filhos 

concebidos como um acto poético. 

Ainda sou capaz de sentir o chamamento

mas no declínio 

parece-me que de repente 

todos ficaram mais velhos.



 

21 comentários:

  1. A vida ganha novas formas com o tempo.
    Formas mais definidas

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  2. Li e não quis comentar, porque o poema é demasiadamente triste — todavia não me sai da cabeça.
    Quando o poeta escreve que se deslumbra com os filhos concebidos como um acto poético — o poema ganha qualidade e beleza.
    A floresta || o bosque da fotografia está também em declínio sem perder a dignidade e beleza.

    Boa noite!!
    Como não estou em casa, não me posso levantar, quando me apetece.

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    1. O seu comentário de hoje falou do texto e eu concordo com o que disse. A foto casa perfeitamente com o texto. Tocou a sua sensibilidade visto que lhe ficou na memória durante um momento, é um agrado para mim.

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    2. Não ficou na minha memória durante um momento, mas sim durante quase duas horas; me obrigou a levantar e escrever emocionalmente o meu sentir.

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  3. Parece ou ficaram mesmo? É maravilhoso quando os filhos são concebidos como sendo um ato poético. Deveria ser sempre assim.
    Uns que morreram, outros que nos esqueceram. Nós (muitos de...) também, esquecemos muitas vezes os mortos e os vivos. Na minha humilde opinião, penso que, nesse capítulo, ninguém é melhor, nem diferente de ninguém. Gostei da intensidade do poema. A foto fez-me lembrar os carreiros da minha terra. Muito bonita.

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  4. Gostei da fotografia e do poema, que não achei nada triste.
    É somente a constatação da realidade de quem o escreveu, onde,curiosamente, me revejo
    É certo que nos dói sermos esquecidos - ou pensar que o somos, só porque não nos provam amiúde que pensam em nós - é certo que nos espantamos por ainda nos sentirmos vivos e palpitantes, quando tantos outros que fizeram parte da nossa vida já partiram. ( ainda ontem senti igual espanto)
    Saibamos viver, ainda que descendo.
    Já tivemos o nosso tempo de subida...que se cumpra, pois, a lei da vida... :) (desculpe o 'tom' moralista)

    Um abraço.

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    1. Sempre me regozijo com os seus comentários e com a identificação com o que deixo escrito. Muito obrigado pelo que diz e que enriquece as minhas ideias.
      Saúde, um abraço.

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  5. Muito belo, este seu DECLÍNIO, L.

    Espelho-me nele, sim. Todos os dias me espanto por ainda estar lúcida, já que me cansei do espanto de ainda viver.

    TODOS os poucos que realmente me conheceram ao longo da vida, partiram. Morreram precocemente, quase todos, e se conheceram o declínio, conheceram-no muito antes do tempo em que ele se torna inevitável.

    Forte abraço!

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    1. Com a partida dos mais velhos do que nós e já de alguns ainda mais novos do que nós chego a pensar que já parece mal persistirmos em nos mantermos vivos.
      Saúde, um abraço.

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  6. Csda día que pasa es un paso menos que tenemos que dar, para llegar al final del camino. Somos viajeros de l vida y cada uno se baja en una distinta estación.

    Besos

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    1. Muy interesante tu comentario y la imagen que diste de nuestro viaje en la vida. Muchas gracias. Un abrazo.

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  7. É verdade! Passamos todos pelo declínio, mas alguns ainda sentem o chamamento, o que é bom.
    A fotografia parece outonal, mas gostei, Luís.
    Abraço.

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    1. Muito obrigado por ter vindo e por ter comentado. Ainda temos sensibilidade, ainda sentimos.
      Um abraço.

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  8. É a lei da vida!
    Todos nós cada dia que passa também vamos envelhecendo, mas, que o declínio do corpo, não acompanhe o dos nossos neurónios.
    Afinal, temos de pensar que todas as faixas etárias tem a sua beleza.
    Eu sei, que é díficil de aceitar e gerir, mas tudo é um ciclo.
    Gostei do poema Caro Poeta e Amigo
    Abraço apertado e um beijo carinhoso.
    :)

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    1. O seu comentário enriquece o texto que publiquei. Temos de ter uma certa resignação quanto à passagem do tempo.
      Agradeço o afecto. Um abraço.

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  9. Declínio, é não sentir tudo o que aqui sente.

    A foto, uma espera de renovação.

    Um abraço.



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  10. O amor não escolhe cor!
    Ele é além do superego.
    Por isso que o amor é cego
    E a nós, ser superior
    Visto que Deus é Amor.
    Seja pelo amor de Deus
    Se me apaixono, os meus
    Sentimentos são a ela
    E com a cabeça em procela,
    Sou mais descrente que ateus!

    Belo poema! Parabéns! Abraço cordial! Laerte.

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    1. Agradeço o seu comentário em forma de poema e a sua visita que retribuirei.
      Um abraço

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