Foto de Daniel Filipe Rodrigues



Os arquitectos e as cidades


As cidades nascem e crescem

nas mãos que inventam paredes

dos que não deixam que se esqueçam 

as janelas de luz ___

___ das cidades nascem os seus arquitectos. 

Eles têm os dedos na pedra

nas suas arestas

nos desenhos sempre inacabados

porque sonham para além da terra

e do homem que habita, 

eles surpreendem-se

com os destinos que o seu olhar imagina

ideia filha de outra ideia, 

eles desenham na sua mente a impossibilidade

e eles sabem esse impossível

mas desenham com palavras

convincentes no seu mundo,

eles nascem das cidades

caminham sobre a beleza e inventam

as casas da nossa solidão ___ obscura

sem o saberem. 

Eles sonham

para além da terra

e do homem que habita.



 

15 comentários:

  1. E como o filho primogénito do Luis é arquitecto,
    autor da fotografia e, provavelmente, vive numa grande cidade,
    desta vez as palavras do Pai ser-lhe-ão dedicadas.
    Se não na totalidade, a maioria. Mas também posso estar enganada.

    Esse rasto do jacto no céu, onde o sol se despede do dia e a cidade se prepara para dormir, faz deste conjunto, foto/palavras uma parceria muito bonita e interessante.
    Parabéns a ambos.

    Boa noite.
    Um abraço.

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    1. Tudo certo no seu comentário. É uma grande investigadora e tem boa memória.
      Agradecemos os parabéns e as palavras elogiosas.
      Uma noite descansada, um abraço.

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  2. Os arquitectos e os bairros


    Os bairros nascem e crescem
    nas mãos que inventam paredes
    dos que não deixam que se esqueçam
    as janelas de luz ___
    ___ dos bairros nascem os seus arquitectos.

    Eles têm os dedos na pedra
    (...)
    Eles sonham
    para além da terra
    e do homem que habita.
    Eles passam do sonho
    ao pesadelo
    por imposição
    do Plano Director Municipal

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  3. Bom, não sei que dizer. A foto é fantástica, olha-se para aquele rio que mais parece um manto de seda azul, toda aquela beleza de um dia que já terminou mas se recusa a dar lugar à noite e sente-se a paz e o sonho no ar.
    O poema fala exatamente do sonho dos arquitetos e da obra que deles nasce. "As casas da nossa solidão _______ obscura sem o saberem"
    Tenho para mim que eles não sabem, porque nos sonhos não há solidão. A solidão é um pesadelo.
    abraço, saúde e bom fim de semana

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    1. Fico muito contente por a Elvira ter gostado e pelas palavras que dedicou à minha publicação de hoje.
      Um bom fim de semana, um abraço.

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  4. Ah, as cidades, sempre tão belas e tão distantes...

    Cresci numa espécie de limbo entre a cidade e o campo, não consigo sentir-me citadina nem camponesa. Serei, até ao fim, uma arquitecta de versos, não de edifícios...

    São lindíssimos, poema e fotografia!

    Forte abraço!

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    1. Talvez seja um equilíbrio essa dualidade entre a cidade e o campo, não se choca com qualquer das realidades. Eu, que sempre fui da cidade, quando me instalei numa zona maioritariamente rural, fiquei surpeendido e após quase três décadas ainda não me recompus.
      Obrigado, um abraço.

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  5. Que coincidência!!
    Ontem à noite, quando vi na TV alemã o novo Munch Museum, em Oslo, lembrei-me do seu filho Daniel e como gostaria de saber a opinião dele sobre um museu que é criticado por uns e louvado por outros. Qualquer dia dou lá um salto.

    Hoje NÃO leio inquietação.
    Leio sim, um amor paternal e uma grande admiração pelo filho que está longe.
    NÃO há palavras para elogiar uma publicação tão ao meu gosto — desde a fotografia ao poema, sendo o título programa.

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    1. Ele lerá este seu comentário, veremos qual a sua opinião.
      Detectou muito bem o fim deste texto. Não compreendi a expressão "título programa".

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    2. Um título absolutamente inspirador.
      APRECIO muito a arquitetura das cidades.
      Ou mais precisamente: AMO arquitetura e AMO cidades grandes.

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    3. Ola'.
      O museu Munch e' do atelier espanhol Estudio Herreros. Por acaso estive em Oslo quando o edifico estava ainda em construção. Acho que a sua escala faz sentido na zona em que esta', junto a' Opera de Oslo, outro edifico marcante. De resto qualquer obra desta escala esta' sempre sujeita a discussão publica e gerando por vezes alguma polemica. E’ uma obra dedicada a’ cultura, o que e’ (na minha opinião) sempre um bom investimento para qualquer cidade e para quem a visita.

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