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Antes

É inútil aprimorar a caligrafia

é inútil escrever com as vírgulas certas

guardo estes papéis no fundo da gaveta

nunca chegarão ao destino. 

E as fotos aqui estão ainda

fiz delas um quebra-cabeças

     quem com quem

     onde e quando? 

Tudo como na memória 

em delírio ___ 

                 esquecido ___

                                   e em retalhos

já que ficamos na dúvida 

por que um dia dissemos certas coisas. 

     

     E como éramos bonitos

     porque ficámos assim?

 


31 comentários:

  1. Queres que te diga?
    Nunca rasguei uma fotografia!

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  2. Sabe Luís? Não acredito que as fotos tenham sido rasgadas por si.
    A única ideia que me ocorre, para justificar o choque que me provocou olhar essa destruição de retalhos de vida, é ter sido outra pessoa movida sabe-se lá porque raiva momentânea.
    Adiante...
    Achei o poema desolado e desolador, Luís. Porquê?
    Até senti vontade de repetir consigo olhando para mim:

    E como eu era bonita

    porque fiquei assim?


    É que me roubou o pensamento, tantas vezes pensado.

    Um abraço, desolado!

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    1. Fui eu sim, que rasguei as fotos, já não tinham interesse, eram caras e lugares já desconhecidos.

      Acho que todos nós, num momento ou noutro, pensamos nisso.

      Não pode haver desolação, somos os mesmos, sendo outros.
      Boa Noite, um abraço.

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  3. Interpreto o poema e fotografia desta noite como um acto de esvaziamento.
    Abraço solidário, Luís!!

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  4. Ficámos assim porque falhámos em toda a linha

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    1. Falhar (com intervalos) é o nosso dia-a-dia.

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    2. Eu não penso, que tenha falhado na minha vida, todavia, preciso desse tipo de esvaziamento!!

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    3. Acho que sim, por vezes é necessário.

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  5. Bom dia Luís. Maravilhoso gesto o seu !!!! Acabei de ler nas notícias de hoje o seu contributo para o enriquecimento cultural dos trabalhadores. Muito obrigado. Um abraço.

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    1. Cumpre-se a função última do acto criativo, a fruição da obra por todos que o desejarem.
      Obrigado pelo seu comentário.

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  6. Gostei muito deste seu ANTES que entendo como uma continuação do que o levou a transformar em puzzle as fotografias...

    Seria tentador poder voltar à mobilidade - a minha beleza física do antes não me interessa muito, teve o seu tempo, cumpriu-se - mas resistiria. Não trocaria esta que sou por aquela que fui enquanto sufocava versos e esboços para me convencer de que era feliz... e "normal".

    Forte abraço!

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    1. Nem tudo se perde com o decorrer do tempo, aliás, muito se ganha mas o tempo é o que é.

      Um abraço.

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  7. O que fizemos de nós?
    Assim sinto as suas palavras...

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  8. Parece um poema de quem está muito desanimado com o momento atual da sua vida, mas não me parece que seja a falta da beleza da juventude que mais lhe preocupa. Talvez essas fotos rasgadas signifiquem pessoas, nem lugares, mas os sonhos que ficaram pelo caminho.
    Abraço e saúde

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  9. https://www.youtube.com/watch?v=f8TflIIfuhs

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  10. Pois... eu acho que só rasgaria fotos de um tempo que não guardo saudades, mas até que nunca as rasguei, porque não existem fotos.
    Poema escrito com um certo desalento, um desencanto que atormenta.

    Como eramos bonitos nessa altura?!
    E eu nem sabia?

    será que soa melhor... acho que não! :(

    deixo o meu abraço apertado (virtual) até isso o tempo nos roubou :(

    ;)

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    1. As fotos, ou o que resta delas, já seguiram o seu destino, depois a memória elimina.
      Obrigado.
      Um abraço também.

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  11. Respostas
    1. Saúdo este seu primeiro comentário e a identificação com a publicação de hoje.
      Obrigado, um abraço.

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  12. Antes...Agora há um certo desencanto e desapego?
    Compreendo bem, sou bem velhinha; necessito e vou tentando cada vez mais, "destralhar-me" por dentro. Também já rasguei fotografias que não me diziam nada...

    Abraço amigo.

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    1. Desfazermo-nos da carga, do excedente, por vezes é preciso.
      Obrigado. Um abraço.

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  13. Às vezes é isso que fazemos. Libertamo-nos de "coisas" que perderam o significado para nós !(?)
    Já fiz o mesmo e não sei me arrependi de rasgar fotos de papel e escritos. Fica sempre algum vazio !

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    1. Só destruímos o passado depois de um tempo longo de reflexão, tudo o que é impetuoso pode ser um erro.

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