Foto de Daniel Filipe Rodrigues




 

Em Veneza a última vez


Prometi a mim próprio 

não mais me recordar

dos passos que dei em Veneza

     não mais me recordar

     do som do encontro

     das pequenas ondas com

     o muro onde me sentei

não mais me recordar

do tinir das louças no café 

onde me imolava por hábito. 


Em Veneza fiz do meu peito o alvo

e com o dedo indiquei

o lugar mais vulnerável 

e foi aí mesmo que nasceu o poema

porque para se escrever poesia

não se pode ser feliz. 

Não voltarei a Veneza.



 

20 comentários:

  1. Que show de poesia, gostei muito. Te convido a conhecer meu novo blog, com uma nova proposta. Abraço. https://botecodasletras2.blogspot.com/

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    1. Saúdo este seu primeiro e elogioso comentário. Visitarei o seu blog com agrado.
      Um abraço.

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  2. "porque para se escrever poesia
    não se pode ser feliz."
    Não conheço nenhum poeta
    que seja feliz longe de tal escrita

    Veneza? Onde fica?

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    1. A poesia pode tornar-se um imperativo irrecusável.
      Veneza fica num lugar onde a terra acaba e o mar começa.

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  3. "Para escrever poesia não se pode ser feliz" Será Luís? Gostei muito do poema e fiquei a pensar será que eu não sou poeta porque nunca fui a Veneza? Porque houve épocas na vida que sofri tanto e me senti tão infeliz, que deveria ter escrito belos poemas, e nunca o consegui fazer.
    Abraço e saúde

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    1. Não é Veneza que faz de alguém um poeta mas a sua experiência de vida sim. Está na altura de tentar?

      Saúde, um abraço.

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  4. Não concordo com estas tuas palavras:
    "e foi aí mesmo que nasceu o poema
    porque para se escrever poesia
    não se pode ser feliz."
    Não sou poeta nem pretendo ser mas escrevo tanta coisa por aqui e não me considero uma pessoa infeliz.
    Porque todos temos momentos tão infelizes e eu não sou excepção e quando assim é não me apetece escrever!
    Beijos e um bom dia

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    1. Na escrita, um autor pode permitir-se lançar ideias sejam elas reais ou não, confirmáveis ou não. A poesia é um lugar de total liberdade, cada um com a sua experiência.
      Bom Dia, um abraço.

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  5. Como muito bem respondeu ao Rogério, "a poesia pode ser um imperativo irrecusável"...

    Gostei muito da imagem e da gôndola que vive dentro do poema. Deste poema

    Um abraço, L.

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    1. Também gostei dessa sua sugestão "da gôndola que vive dentro do poema".
      Um abraço.

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  6. Não vou dar mais açúcar ao macaco e polemizar, se o poeta tem de ser infeliz para poetizar.
    Tinha, então, que encontrar um definição para a felicidade.
    Que toda a arte é um imperativo irrecusável ninguém pode negar.
    Que uma gôndola vive dentro do poema é visto por a alma gémea do poeta.
    Summa summarum: uma fotografia que me convida visitar Veneza.
    Um poema que me convida a refletir.
    Em tempos turbulentos é toda a espécie de arte que nos ajuda a resistir 🕊

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    1. Também gostei da expressão que não conhecia "dar açúcar ao macaco" sempre pensei que o amendoim era a goluseima preferida dos macacos.
      A definição para a felicidade, não existe, cada um terá a sua, uns a ver o futebol na TV, outros a folhear um livro desejado e acabado de comprar, outros a dedilhar uns caracóis com orégãos outros em silêncio a ouvir o dedilhar de uma viola da gamba.
      Estou de acordo que toda a arte nos ajuda a resistir à violência instalada nos nossos dias.

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  7. Penso que a poesia não tem amarras nem condicionantes.
    Quem sente o coração a transbordar de dor ou felicidade e tem na alma o dom de se expressar de forma poética, escreve poesia seja qual for o seu estado de espírito e o local onde se encontre. Mas, claro, Veneza é como Paris: um local de encantamentos irrecusáveis para pintores e poetas.
    Pelo que escreveu, deduzo que o autor já foi muito feliz em Veneza. Que bom! Só não percebi o porquê dessa "imolação por hábito".
    Morria habitualmente de amores, era? :)

    Um abraço.

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    1. Estou de acordo, a poesia é um exercício de liberdade de pensamento. Veneza é um lugar, tal como Paris (estou de acordo) que nos aviva a emotividade que temos desejo e necessidade de exprimir.
      O autor foi feliz, infeliz e assim assim em vários lugares, muitas vezes somos felizes e não sabemos, só mais tarde somos capazes de ler os sinais.
      Um sentimental morre de tudo e renasce de nada.
      Obrigado, um abraço.

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    2. Luís, não pode esquecer-se daquilo que escreve e reparar se houve conexão nos comentários dos leitores com as suas palavras. É evidente que o autor foi feliz, infeliz e nem uma coisa nem outra, como de resto qualquer pessoa.
      Se eu refiro que o autor foi muito feliz em Veneza, faço-o somente em virtude disto que escreveu:

      "...porque para se escrever poesia
      não se pode ser feliz.
      Não voltarei a Veneza."


      Percebeu agora?

      PS- Gostei de sabê-lo um sentimental. Só podia, não é verdade?

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  8. Boa tarde!

    Li o poema e como sempre naveguei nas palavras do Poeta.

    Mas, navegar é preciso, mesmo que seja nas palavras de outros, só que, isso não me leva a concordar com tudo o que leio, mas apenas fico a pensar e o meu sentir não é igual, como é óbvio aos restantes.

    Isto a propósito destas estrofes que passo a citar :
    “e foi aí mesmo que nasceu o poema
    porque para se escrever poesia
    não se pode ser feliz. “
    Não voltarei a Veneza.

    Se eu escrevesse este poema seria assim:

    “ e foi aí que nasceu o poema
    porque para se escrever poesia
    também se pode ser feliz”
    Eu voltarei a Veneza.

    É simplesmente a minha opinião, que vale o que vale…

    Abraço o Poeta/Pintor com muita admiração e carinho.

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    1. Respeito o seu sentir, aprovo que é uma possibilidade ou talvez uma crença mais forte na possibilidade de ser feliz.
      Muito Obrigado, um abraço.

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