Foto de Bartolomeu Rodrigues




O cão do tempo


Quando são já raros os acordes

da música que escolhemos

insinua-se um silêncio ambíguo 

como um cão do tempo

com duas cabeças ___ enquanto 

uma descansa no nosso colo

a outra baba-se a encarar o tempo


Alimente-se então o cão do tempo

enquanto se assiste à televisão 

sórdida que nos agarra a garganta


Ficamos assim na presença 

do quadro exacto da ternura

o cão do tempo sobre os joelhos

e o copo de cicuta a queimar

a nossa melancolia.




 

12 comentários:

  1. É na ambiguidade do silêncio nas madrugadas que os bichos de sete cabeças vêm atomentar as mentes cansadas e débeis.
    Sem ternura, sem aconchego, sem nada.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Saúdo este seu comentário que, julgo, é o primeiro.
      A sua interpretação é muito interessante e estou de acordo com ela. As suas palavras são também um poema.

      Eliminar
  2. Só discordo da repetição excessiva do fator tempo

    ResponderEliminar
  3. Huuuum...um cão com duas cabeças, um descansa no colo e outro na cicuta venenosa...ó que coisa tão tétrica e sinceramente não encontro nenhuma ternura versus ligação. Dizer que percebi mentiria porque não é nada a minha praia andar para a frente e enredar-me no passado do tempo. Saio daqui a rir e a pensar comigo mesmo...gastar os meus neurónios neste poema e naquele nauseabundo com veneno? Não e não e ó homem de Deus...anda comigo ver os aviões a levantar voo porque não sei o que se passa mas são muitos. Não queres? problema teu:)))
    Um enorme abraço e obrigado por este momento e um bom dia.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. A arte pode ser concreta ou abstracta, pode relatar a realidade ou explorar a ficção e até as duas coisas ao mesmo tempo. Importante é provocar no leitor alguma espécie de emoção.
      Acho muita piada à sinceridade destes comentários e à forma como são escritos.
      Um abraço também.

      Eliminar
  4. Dali não faria melhor...

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. A pintura surrealista pode ajudar a entender como o cérebro processa informações visuais. Dali não escrevia.

      Eliminar
  5. A melancolia da fotografia levou-me às pinturas de Edward Hopper.
    E o poema tão belo como original levou-me ao mundo cão de Pier Paolo Pasolini.
    A publicação desta noite também me levou a uma frase de uma tia do meu “deserto loiro”, que viveu a guerra em criança.
    Mas isso, já é uma outra história, que conto para a próxima vez.

    Assino o meu nome Teresa Palmira Hoffbauer 💙 para evitar confusões!!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Valiosos os seus comentários, as referências que aqui deixou acabam por valorizar a publicação.
      Não há confusão, os seus comentários têm um estilo próprio.

      Eliminar
  6. Decididamente o blogger embirra comigo!
    Abraço, saúde e bom fim de semana

    ResponderEliminar