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A carta
Um homem escreve uma carta a uma mulher
como se fosse um acto antigo
O homem escolheu o mais terno papel rosae sobrescrito a condizer ___ com cantos violetanele escreveu o nome da mulhere o lugar de destinoO homem carregou de tinta azul a sua estimadae bela caneta que estava muda desdequando disse a última cartaEscreveu a data na primeira linhao dia registado ___ seminalcom letras maiores escreveu no meio da páginaAmo-te, tenho saudadesna última linha, o homem assinou apenascom o seu primeiro nomeO homem guardou a carta no sobrescritoque não colou ___ beijou-o duas vezese encostou-o à jarra onde tinha as floresque amanhã levaria para depositarno lugar inscrito a seguir ao nome da mulherDepois deitou-se para dormir e sonharcomo fazia todos os anos.
Uma forma elaborada de celebrar/recordar alguém que já partiu. Fiz isso muitas vezes em forma de surpresa enquanto seres vivos porque quando partiram. O meu irmão ainda recebeu uma carta minha quando vivi no Brasil Encontra-se sepultado em Luanda num talhão dos militares angolanos. Recordo-o apenas com o coração. Quando surpreendia o meu pai, lá como cá, ele era "dos antigamente" ficava sem saber o que fazer às flores e claro dava à minha mãe. Sempre disse que quando morresse não queria flores , nem cuscos e cuscas e outra coisas tais. Tinha uma caneta igual à tua mas toda preta e o respetivo tinteiro que ofereceu à minha filha mais velha quando terminou o curso. Foi cremado e as cinzas ficaram por lá.
ResponderEliminarRespeito inteiramente quem faça o contrário daí ter gostado muito deste teu testemunho poético que levei por quem partiu de vez, mas no teu sentir poderá ser diferente.
Beijocas e um bom dia
Tocante este teu comentário, sincero, fala de acontecimentos familiares que ficam como uma parte marcante da vida de qualquer um. Vivi esse tempo, perdi amigos, vivia numa rua principal de Lisboa onde diáriamente passavam os carros militares cobertos com a bandeira portuguesa e pensávamos que estávamos na idade de ir.
EliminarApreciei o comentário de hoje.
Um abraço.
Tão bela, esta carta de amor para uma amada que partiu, L.!
ResponderEliminarA personificação da caneta que "estava muda desde que DISSE a última carta", tocou-me particularmente.
Forte abraço!
Fico contente por ter gostado.
EliminarUm abraço.
Escrever uma carta é um acto antigo.
ResponderEliminarNinguém escreve cartas nos dias de hoje.
A carta que o poeta escreveu não é uma carta de amor ridícula.
É sim, um verdadeiro monumento de poesia romântica.
A revelação do sentimento pela forma mais nítida, mais perfeita, mais adequada e mais musical.
A caneta e o tinteiro são lindos de morrer.
O papel tem de ser cor-de-rosa, quando a carta é para uma mulher?!
Tomo muito em conta o seu comentário, o seu conhecimento de literatura dá ênfase à classificação que deu à publicação.
EliminarO rosa por ser uma cor suave e doce.
Há muitas formas de partir.
ResponderEliminarTalvez a amada de hoje, tenha saído da vida do autor da missiva e esteja em lugar incerto.
Pode haver separação física e o amor continuar a existir.
Aida hoje amo a lembrança do meu primeiro amor.
Talvez o único, o verdadeiro. Mas a vida não quis... e a carta que escrevi foi de despedida, ou seja, o inverso do que aconteceu aqui.
Porém, sem ficção.
Um abraço
*Ainda.
EliminarAs cartas já não se usam nos dias de hoje. Talvez haja na vida de alguns de nós uma carta inesquecível, o texto de hoje pode despertar as memórias dos leitores. Assim foi consigo, fico contente.
EliminarUm abraço.
A carta que refiro também não foi escrita nos dias de hoje, nem pouco mais ou menos.
EliminarFoi no tempo em que só existiam cartas. Ora entregues em "mão própria" ou através dos carteiros dos CTT.
Obrigada.
Eu compreendi isso mesmo, mas o princípio da minha resposta não foi claro.
EliminarObrigado.
Caro Poeta/Pintor
ResponderEliminarEste poema além de ter sido escrito com ternura, é comovente para mim.
Pelo menos foi assim que me senti.
Gostei da foto que condiz tão bem com o teor do poema.
Bom fim-de-semana
:(
Somos sensíveis a estas homenagens que, certamente, existem nas nossas vidas.
EliminarUm abraço.
Um poema emocionante, pelo amor e pela solidão de quem fica quando o objeto desse amor parte, nele revelado. Gosto da foto.
ResponderEliminarAbraço, saúde e bom domingo
Ficar sozinho mas manter os laços com aquele que nos deixou sozinho.
EliminarSaúde, um abraço
Belo!
ResponderEliminar" Amo-te, tenho saudades"
Não seriam necessárias mais palavras na carta...
Não assino nenhum nome.
Existem anónimos entre anónimos, com a Devida impressão digital.
Um comentário de cariz misterioso mas poético.
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