Ferreiro das memórias 


Trabalho na bigorna 

as tuas palavras 

os teus sorrisos 

mas também o despeito 

e o ranger de dentes 

Chego ao lume o ferro 

que me apresentas 

e em brasa o compreendo 

com o meu martelo 

desesperado 

Trabalho na bigorna 

as tuas palavras 

os teus sorrisos 

durante um tempo ___

___ faísca sobre faísca 

Incapaz de lhes dar forma 

vou deixar que ardam na fornalha 

o teu despeito 

e o teu ranger de dentes 

até as brasas se apagarem. 


 

Gijón, Astúrias 2030


Da série "Poemas do futuro"




 

17 comentários:

  1. Meu tormento
    é a carpintaria
    a polaina não cortava
    a serra não tinha trava
    a madeira rachava
    a custo
    lá construí a cruz

    a ti ferreiro compete-te Jesus
    em aço fundido
    bem trabalhado
    de modo a que se reconheça Cristo

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    1. Estamos na luta, cada um com as suas possibilidades mas acreditando sempre.

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    2. O Rogério regressou da melhor forma.
      Eu não reconheço Cristo.
      Reconheço os meus dois amigos: Luís e Rogério.

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    3. Pela parte que me toca, é uma deferência que registo.

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  2. É o que deve fazer às memórias corrosivas que só dão cabo de qualquer pessoa. Gostei!!!
    Desde já pedindo desculpa a tua pintura não me suscitou nenhuma emoção e nem consigo ligar ao poema.
    Já agora fiquei "marada" porquê Astúrias 2030? Vai acabar o mundo?:)
    Um enorme abraço de bom dia

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    1. As memórias, todas, as tristes, as dolorosas, as corrosivas, são fonte de inspiração.
      Astúrias 2023, ou outro lugar qualquer, noutra data qualquer, a nossa imaginação é a nossa salvação.
      Um abraço.

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  3. Neste meu/nosso ofício de tecer palavras e/ou moldá-las, muitas vezes me senti tecelã, marinheira, agricultora, oleira, carpinteira e tantas outras coisas. Nunca antes me tinha ocorrido ser ferreira...

    O poema ganha força quando martelado na bigorna. Gostei muito, L.!

    Forte abraço!

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    1. Somos ferreiros e ferro incandescente ao mesmo tempo.
      Um abraço.

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  4. Teresa Palmira Hoffbauer

    O poema ganhou força quando o martelei na minha memória depois de o ler várias vezes em voz alta.
    Na aguarela vejo o futuro da velha EUROPA.

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    1. O futuro da Europa, parece, poder ser um braseiro.

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    2. Teresa Palmira Hoffbauer

      A faísca vai na direção de uma EUROPA moribunda.

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  5. Pode o Poeta ser mais alto, ser maior,
    porém, nunca serão as suas professias poéticas
    as certezas do que acontecerá no Futuro.
    Esteja ele nas Astúrias, esteja preso no enclave
    entre a serra e o mar, dos seus desejos...

    Para acreditar em premonições há que crer num ser superior, é preciso ter fé,
    quem não tiver...somente blasfema!

    ( A bigorna onde se malha o Mal também serve para moldar o Sofrível... até o transformar no Bem.)

    Um abraço. 🤗

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    1. Viver sem fé é um caminho que se faz, aos poucos, procurando a explicação a que a filosofia nos conduz. Quem inventou os deuses foi o homem, daí o termo "blasfémia" ficar amputado dessa significação ofensiva contra um hipotético Deus. Respeito quem tem fé mas, quem não tem, também deve ser respeitado, sobretudo porque está mais próximo da coerência. Apenas acredito no homem.
      Um abraço.

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    2. ...Quem não tem fé, acredita na 'coerência? Qual? Na dos filósofos? Tristes os que vivem sem Fé.
      Já eu, cada vez acredito menos no ser humano....

      Boa noite.

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    3. Pode parecer-lhe que não, mas respeito todas as crenças e até as descrenças, ainda que não acredite que a coerência esteja na descrença. Não acredito é em crendices, coisa bem diferente de crença. Há filósofos que analisam a vida com base na ciência, no entanto, e tal como eu, crêem na existência de algo superior à força e à vontade humana. Quiseram chamar-lhe Deus? Que chamem!
      Um abraço.

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    4. Seria fastidioso e incómodo continuar a contestar, nunca chegaríamos a nenhum ponto de encontro.
      Prezo as suas opiniões.
      Os meus respeitos e um abraço.

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