O que não podia ser adiado


Não é possível reinventar o que aconteceu 

ali estava Abril ainda frágil e a precisar de auxílio 

a precisar de caras decididas a deixarem-se ver 

Alguns diziam 

          E as famílias meu Deus! 

e nós dizíamos 

          As famílias serão filhas de Abril 

          e Deus não existe! 

E assim foi ___ noites que eram como os dias 

o sono não se atrevia, seria levado de vencida

como tudo o que era contra Abril 


Muitos e muitos anos depois 

os filhos dos pais de Abril ainda pensam 

que os traímos com a revolução 

e que cresceram sozinhos 

Já ninguém te pergunta se tens 

frio 

fome 

felicidade 

Esta é afinal a vida de um homem livre 

e solitário que foi um funâmbulo caminhando 

entre o dever e a renúncia.




 

 

12 comentários:

  1. Que esplêndido poema, L.!

    Por pouco, por muitíssimo pouco, essa não é, afinal a vida de uma mulher "livre/E solitária que foi uma funâmbula caminhando/Entre o dever e a renúncia".

    Forte abraço!

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    1. Este é o resultado do nosso caminhar entre o dever e a renúncia, nessa época.
      Um abraço.

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  2. Liberdade ! ainda que tardia ...
    os sonhos continuam se atrevendo L
    Gosto da aquarela e que haja corações reinventando amor .
    meu abraço

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    1. Os corações em liberdade, ou não, inventam o amor. É o que nos vale.
      Um abraço.

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  3. Abril em NOVEMBRO — porque não?!
    Embora eu seja uma mulher livre, não solitária, que nunca caminhou entre o dever e a renúncia, gostei de ler este poema extremamente político e adorei a aguarela. Cada indivíduo tem as suas prioridades.

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    1. Prioridades que a humanidade e o dever cívico impõem, tomando em conta o interesse de todos e não os interesses pessoais.

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  4. No me he encontrado nunca con semejante alternativa.
    Besos.

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    1. En Portugal hubo una revolución el 25 de abril de 1974. Un abrazo.

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  5. Um poema, qual grito de (liberdade) ou solidão?!Adorei :)
    Beijo. Boa noite!

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    1. GRITAR, gritamos muito, mas nem sempre gritamos pelos ideias políticos do poeta.

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    2. Todos os gritos são permitidos desde que por causas justas, ainda que não sejam coincidentes com os do autor.

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