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As duas chávenas 


Fico-me a meditar

sobre a variação da minha existência 

quantos de mim já existiram

quantas contradições entre eles

quantos de mim se salvaram

em quantos mundos vivi

quanto tempo ___ quantos séculos 


sendo a infância o tempo

mais longínquo antes da libertação 

depois de vivo e consciente 

quantos úteros conheci

infecundos

insensíveis 

irresponsáveis 


sou crente à minha maneira

creio na não existência de um deus

misericordioso e equilibrado

não tenho por isso a quem pedir nada

creio na minha individualidade

creio na presença dos outros ___

___ na minha solidão 


abro a porta do armário 

da que foi a nossa cozinha

retiro a chávena rosa ___

___ só uma 

e fico-me a meditar 

que útero tomará a seguir como sua

a outra chávena rosa.



 

12 comentários:

  1. Partilhamos a crença na nossa individualidade.
    Claro que eu sou uma individualista mais extrema.

    E o poeta concluiu, que as inquietações e as incertezas da vida, sem uma chávena de chá, ainda ecoam mais cruéis.

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  2. Cá volto eu, ainda muito enferrujada ao nível da palavra e de algumas outras articulações...

    à fotografia, peço-lhe já licença para a roubar, mas a isto " Creio na presença dos outros na minha solidão" foi o poeta que o roubou aos meus mais íntimos pensamentos...

    Tardiamente lhe respondi, mas respondi.

    Forte abraço, L.

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    1. Bem vinda. A imagem pode ficar com ela.
      Espero que se recomponha.
      Um abraço.

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  3. " R y k @ r d o " deixou um novo comentário na mensagem "":

    Foto e poema que muito gostei de ver e ler.
    .
    Saudações poéticas

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  4. É bonita a chávena e um chá inspira sempre uma boa dose de reflexão, bem espelhada neste poema.

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  5. Caro Poeta/Pintor/Fotógrafo e Amigo
    Um poema que nos remete a uma reflexão profunda.
    Achei muito bonita a foto, em afinidade com o poema
    Bom domingo.
    :)

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    1. Agradeço toda a sua gentileza, no comentário e nas designações com que agracia o autor.
      Um abraço.

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